Por Valéria Credidio / Ascom-LAIS
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a sífilis congênita é a segunda causa de natimortos em todo o mundo, superada apenas pela malária. Além da morte do bebê, a infecção sexualmente transmissível pode levar a outros problemas de saúde como o aborto espontâneo, parto prematuro e infecção congênita em recém-nascidos. Um dos principais pontos para o enfrentamento do problema é o aprimoramento dos protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas utilizados na rede de saúde pública.
Com o intuito de realizar uma análise comparativa entre os protocolos utilizados no Brasil e com os praticados em Portugal, pesquisadores do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS/UFRN) e da Unidade de Investigação em Ciências da Saúde:E (UICISA-E)/Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (ESEnfC), publicaram o artigo científico intitulado “Clinical Protocols and Treatment Guidelines for the Management of Maternal and Congenital Syphilis in Brazil and Portugal: Analysis and Comparisons: A Narrative Review”. O trabalho foi publicado na revista International Journal of Environmental Research and Public Health do grupo MDPI, principal editor de acesso aberto do mundo.
Além dos pesquisadores do LAIS, o artigo conta com autores de outras instituições, como a Universidade de Coimbra (UC) em Portugal e pesquisadores da Universidade de Castilla – La Mancha, na Espanha.
O artigo publicado é parte da pesquisa desenvolvida no estágio pós-doutoral da pesquisadora Talita Brito (LAIS/UICISA:E) e faz análise documental de Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) utilizados no Brasil e em Portugal no enfrentamento da sífilis em gestantes e sífilis congênita. “Por meio dos dados analisados, tivemos condições de fazer um estudo comparativo dos protocolos utilizados e essa análise pode evidenciar a conduta adotada na incidência de casos de sífilis em ambos os países”, explicou a pesquisadora.
Outros fatores também são indicados no artigo como influenciadores no aumento dos casos, como os fatores sociodemográficos, nível de educação, mortalidade/taxa de natalidade, pobreza e fatores relacionados à idade e uso de drogas. De acordo com a pesquisadora, em conjunto, esses dados impactam diretamente os cuidados na saúde repercutindo diretamente no serviço de saúde. “Os reflexos são imediatos, com falhas na assistência à saúde, atraso em notificações, lacunas no acompanhamento da gestante e do recém nascido, apesar de tratar-se de uma infecção com diagnóstico e tratamento amplamente disponíveis”.
Apesar dos pontos negativos, o estudo também relata resultados positivos decorrentes da implantação e ações de intervenção do Projeto “Sífilis Não” no território brasileiro, como a diminuição dos casos de sífilis congênita entre as crianças nascidas no Brasil.
Para o diretor executivo do LAIS e um dos autores do trabalho, professor Ricardo Valentim, os resultados e achados científicos apontados pelo artigo são promissores, pois destaca à comunidade acadêmica, aos profissionais e gestores atuantes na saúde pública brasileira recomendações e discussões que poderão contribuir para a eliminação da transmissão vertical da sífilis. “Há fatores e ações que necessitam ser implantados no Brasil com objetivo de eliminar a transmissão vertical da sífilis, alguns deles podem ser inspirados em Portugal. Ao comparar os protocolos, do Brasil e de Portugal, que estão sendo implementados nos países, o artigo conseguiu destacar os hiatos existentes no Brasil.
O artigo também apontou que o Brasil saiu na frente ao reconhecer a epidemia de sífilis em 2016, isso foi muito importante, pois possibilitou que o país avançasse na resposta à epidemia de sífilis, isso em relação a outros países no mundo. Este trabalho coloca luz sobre questões importantes nesta temática, a qual é atualmente também um problema global de saúde. A sífilis já é uma preocupação internacional, até mesmo em países mais desenvolvidos, como China, Estados Unidos e Canadá. Neste contexto, o Brasil tem desafios que precisam ser ainda superados, particularmente, em relação à gestão de casos de sífilis em gestantes, isso devido à obsolescência dos sistemas de informação para notificação dos casos – hoje estes sistemas são inadequados para a notificação deste agravo”, ressaltou.
Referência: de Brito Pinto, T.K.; da Cunha-Oliveira, A.C.G.D.P.; Sales-Moioli, A.I.L.; Dantas, J.F.; da Costa, R.M.M.; Silva Moura, J.P.; Gómez-Cantarino, S.; Valentim, R.A.d.M. Clinical Protocols and Treatment Guidelines for the Management of Maternal and Congenital Syphilis in Brazil and Portugal: Analysis and Comparisons: A Narrative Review. Int. J. Environ. Res. Public Health 2022, 19, 10513. <https://doi.org/10.3390/ijerph191710513>