Por Valéria Credidio/ Assessoria de Comunicação do LAIS/UFRN

Composta por nove países, 11 estados brasileiros e mais de 10 milhões de habitantes, a região de fronteira, no Brasil, tem índices de infecções por sífilis maiores do que a média nacional. A informação é resultado de um estudo realizado por pesquisadores brasileiros e que aponta outros fatores importantes, como as taxas de sífilis adquirida, em gestante e congênita, quando a infecção passa da mãe para o bebê.

Todas as informações fazem parte do artigo “Sífilis gestacional e congênita na fronteira internacional no Brasil”, de autoria de pesquisadores do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS/UFRN). O trabalho foi publicado na Plos One, importante periódico científico internacional.

De acordo com Leonor Lanoy, uma das autoras do artigo, os resultados obtidos mostraram que a região de fronteira brasileira em 2020, se comparada com os dados nacionais, apresentou maior taxa de detecção de sífilis adquirida. Essa taxa é igual a de detecção de sífilis em gestantes e menor do que a registrada para a infecção congênita.  Para a pesquisadora, esses dados mostram um melhor controle da sífilis no país.

“O  estudo se propôs analisar a distribuição da sífilis adquirida, em gestantes e sífilis congênita nos últimos anos na faixa de fronteira  uma vez que não há análises desses agravos na região. O trabalho é importante porque as regiões de fronteira apresentam características peculiares e vulnerabilidades específicas que podem contribuir para a transmissão das IST”, ressaltou a pesquisadora.

A região de fronteira brasileira tem características específicas, como o fato de estar à margem dos grandes centros e com menos recursos econômicos, além de ser uma região de baixa densidade demográfica. Conforme explicou a pesquisadora, os achados mostram que a detecção de sífilis em gestantes se mantém acima da taxa de detecção nacional e a incidência de sífilis congênita é menor durante toda a série histórica. “As elevadas taxas de detecção de sífilis em gestante demonstram ampliação do acesso ao pré-natal na região. O artigo busca contribuir para o fortalecimento do sistema de saúde e na construção de políticas específicas, solidárias, que atendam cidadãos de ambos os lados”, concluiu.

Projeto “Sífilis Não”

O artigo agora publicado é mais um produto oriundo do Projeto “Sífilis Não”, fruto de uma cooperação técnica entre a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), por meio do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS) e o Ministério da Saúde em parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e, desde 2017, vem atuando como ferramenta de indução de políticas públicas para o enfrentamento à sífilis no Brasil.

Para o diretor executivo do LAIS, professor Ricardo Valentim, o “Sífilis Não” é um projeto complexo que dá exatamente a dimensão continental do Brasil e esse artigo mostra a questão da sífilis em gestante e sífilis congênita, que são grandes desafios da saúde pública, especificamente na região de fronteira. “Esse trabalho traz uma avaliação apoiada em dados do Projeto, que demonstra a importância da inclusão da agenda do tema sífilis na agenda de saúde pública do país, incluindo a região de fronteira”, argumentou o diretor do LAIS.
Valentim ainda reforçou que essa inclusão se dá, principalmente, porque os dados demonstram um aumento de casos nessa região fronteiriça do Brasil. “O mais importante é que esses municípios, mesmo localizados em uma região distante dos grandes centros, fazem o teste rápido, o pré-natal e usam a penicilina para o tratamento da sífilis, quando necessário. E isso tudo é reflexo do Projeto “Sífilis Não”, que impulsionou uma política pública necessária e agora entra em uma fase de análise da condução desta política”, finalizou.

Como citar

Citação: Lannoy LH, Santos PC, Coelho R, Dias-Santos AS, Valentim R, Pereira GM, et al. (2022) Sífilis gestacional e congênita na fronteira internacional no Brasil. PLoS ONE 17(10): e0275253. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0275253