Por Letícia Meira – Assessoria de Comunicação do LAIS/UFRN (ASCOM/LAIS) 

Para melhorar a identificação da perda auditiva precoce e maximizar seus benefícios, um grupo colaborativo de pesquisadores de todos os continentes do mundo, que atuam em diversas áreas, incluindo audiologia, otorrinolaringologia e saúde pública, uniu esforços para desenvolver, de 2020 a 2022, um documento de recomendações voltadas para as políticas públicas em saúde auditiva infantil em âmbito global. Entre esses pesquisadores, está uma das coordenadoras da Base de Audição e Linguagem do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS/UFRN), o que coloca o Laboratório no mapa mundial de debates sobre os cuidados com a saúde auditiva.

O documento, intitulado “Diretrizes do Grupo de Trabalho da Coalizão para Saúde Auditiva Global sobre Percursos Auditivos: Orientações Clínicas para o Estabelecimento e Desenvolvimento de Programas de Intervenção e Detecção Auditiva Precoce Baseados em Evidências” foi desenvolvido pela Coalizão de Saúde Auditiva Global (CGHH), que convidou expertises de todos os continentes. A pesquisadora do LAIS/UFRN e docente do Departamento de Fonoaudiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Depfono/UFRN), Sheila Balen, foi convidada para representar a América do Sul nesse estudo.

O principal objetivo desse trabalho vai além de abordar a prevalência da deficiência auditiva e seus impactos no desenvolvimento infantil. Ele visa auxiliar não apenas as crianças com perda auditiva, mas também suas famílias e organizações, fornecendo um mapa dinâmico adaptado de forma exclusiva e eficaz para a região ou país em questão. A versão final do documento foi aceita para publicação na revista Ear and Hearing, reconhecida como uma das mais conceituadas e renomadas na área da Audiologia em nível internacional.

Para Balen, esta experiência de interagir com pesquisadores de todo o mundo proporcionou uma compreensão mais ampla das realidades dos diferentes países, permitindo também que ela compartilhasse a situação do Brasil, em relação à identificação, diagnóstico e intervenção em crianças com deficiência auditiva. “Desenvolver um documento que pudesse direcionar ações equitativas frente às desigualdades existentes em todo o mundo foi uma tarefa árdua, na qual teve-se que ponderar o exequível buscando a excelência nas evidências científicas”, afirmou.

Ainda segundo a coordenadora da Base de Audição e Linguagem do LAIS/UFRN, existe a esperança de contribuir para avanços nas políticas públicas de saúde auditiva infantil no Brasil, com o objetivo de dar continuidade e alcançar resultados mais bem-sucedidos em todo esse processo. “Este documento pode enriquecer as discussões recentes que foram abertas para consulta pública pelo Ministério da Saúde do Brasil, em dezembro de 2023, como parte da revisão e atualização em andamento das Diretrizes do Programa de Triagem Auditiva Neonatal”, enfatizou.

A coordenadora-geral desta colaboração global é a professora do Institute of Health Professions, de Chicago (EUA), King Chung, que já desenvolveu parcerias com a Base de Audição e Linguagem do LAIS/UFRN, na realização de uma missão de audiologia humanitária na Polônia, em novembro de 2022. Na oportunidade, a equipe liderada por Chung prestou atendimento a aproximadamente 500 pessoas, oferecendo testes auditivos a crianças em idade escolar, membros da comunidade judaica e refugiados ucranianos. Essa iniciativa é parte integrante do Coalition for Global Hearing Health e destaca o esforço conjunto para promover o bem-estar auditivo.

Gestão em Saúde em evidência 

Essa ação de cooperação técnica internacional dá respaldo para o desenvolvimento do mais novo projeto da base, coordenado pela pesquisadora Sheila Balen. A iniciativa, intitulada “Sistema de Gestão em Saúde Infantil: integração da rede Materno-Infantil e da Rede da Pessoa com Deficiência”, reúne uma equipe multidisciplinar dedicada a desenvolver um sistema de gestão em saúde infantil. Esse sistema terá como ponto de partida a Rede da Pessoa com Deficiência Auditiva nos primeiros três anos de implementação, com o objetivo de colocar em prática diversas sugestões contidas no documento a ser publicado.

O projeto conta com o apoio do Departamento de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Complexo da Saúde, do Ministério da Saúde (Decit/SECTICS/MS), e está prestes a iniciar seu período de execução, abrangendo os anos de 2024 a 2026.

Esse novo projeto reúne a expertise prévia dos demais pesquisadores do LAIS/UFRN, coordenados pelo professor Ricardo Valentim, que pode ser exemplificada pelo Salus, um sistema de monitoramento inteligente dos casos de sífilis, com ênfase aos casos de sífilis congênita e sífilis em gestante. Essas iniciativas desempenharam um papel crucial na identificação, tratamento e acompanhamento de gestantes com sífilis em mais de 1.300 municípios do Brasil, que aderiram ao sistema. Além disso, são usadas estratégias de saúde digital, por meio do Núcleo de Telessaúde do Rio Grande do Norte, ampliando ainda mais seu impacto e alcance.