Valéria Credidio/ Assessoria de Comunicação do LAIS/UFRN
Mais de 18 milhões de pessoas são beneficiadas, diariamente, em todo o Brasil com o desenvolvimento científico produzido pelo Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS/UFRN). Esse quantitativo de brasileiro é atendido por algumas das mais de 150 propriedades intelectuais registradas (inovação em saúde), pelo LAIS, no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), ao longo de seus 15 anos de trabalho.
Esse feito vai além dos muros da academia, transformando-se em um arsenal de patentes e softwares que representa não somente um importante indicador de produtividade científica, mas, principalmente, uma injeção de inovações tecnológicas de ponta no Sistema Único de Saúde (SUS), beneficiando brasileiros em todas as regiões do país.
As tecnologias desenvolvidas pelo LAIS, em colaboração com centenas de instituições nacionais e parceiros internacionais em todos os continentes, demonstram como a pesquisa aplicada pode se traduzir em políticas públicas eficazes e escaláveis. A profundidade do trabalho é medida pelo volume e pela natureza dos dados gerados por suas plataformas, apresentando-se como soluções de saúde digital que apoiam gestores do SUS e formuladores de políticas públicas. Projetos premiados e de alcance nacional estão reescrevendo a forma como o SUS opera.
Um exemplo é a Plataforma Salus 2.0 que atua como um sistema de alerta precoce diretamente no monitoramento de casos de sífilis no Brasil. De acordo com o diretor executivo do LAIS, Ricardo Valentim, ao monitorar mais de 36 mil casos em diferentes estágios, incluindo 3 mil casos de sífilis congênita, a plataforma permite que gestores públicos de saúde ajam rapidamente com ações efetivas que salvam vidas e contribuem para eliminar a transmissão vertical da sífilis. “O uso inteligente da tecnologia a serviço da saúde pública e do cidadão, da prevenção, da promoção da saúde e da equidade, é o que define a missão do LAIS”, pontuou Valentim.
Telediagnóstico e Inovação em Saúde
A Plataforma Nacional de Telediagnóstico (PNTD), por sua vez, é um pilar na descentralização do cuidado e na integração da gestão do Programa Telessaúde no Brasil. Com mais de 3,3 milhões de telediagnósticos em telecardiologia (registradas e gerenciadas), 357 mil em teledermatologia e 40 mil em teleoftalmologia.
No Rio Grande do Norte, a Telessaúde, em parceria com o LAIS, desempenha um papel estratégico para a transformação digital da saúde através das suas diversas ofertas de serviços de saúde, como teleconsulta, telediagnóstico, telerregulação, teletriagem, entre tantos outros. No campo assistencial, por exemplo, as teleconsultas e telediagnóstico são ferramentas robustas para possibilitar acesso rápido e efetivo à diversas especialidades de saúde e exames. A telerregulação e a teletriagem se apresentam como componentes de grande importância para a organização dos serviços de saúde, pois colocam o cidadão como ator central. Esses dois componentes promovem para o cidadão a democratização no acesso à saúde, a diminuição do tempo de espera e a redução de deslocamentos (menos custos com transporte), com isso contribui também para a redução de gás carbônico na atmosfera (menos emissão de CO2).
De acordo com coordenador do Núcleo Técnico-científico do Telessaúde do RN, Higor Moraes, um exemplo prático das ações que vêm sendo desenvolvidas é o uso consistente do equipamento Osseus, o qual vem contribuindo para a qualificação da informação no que se refere à necessidade de acesso a exames de densitometria óssea. “O Núcleo vem realizando ações e campanhas em parceria com outros atores na região metropolitana de Natal para oferecer esse serviço à população idosa em projetos de extensão para promoção da saúde física e mental no IFRN”, ressaltou o coordenador. A Telessaúde no RN, coordenada pelo LAIS, integra serviço, ensino e ciência, completou Moraes.
O Osseus é um é um dispositivo portátil de fácil operação e de baixo custo, proporcionando escalabilidade e potencializando o seu uso em qualquer lugar do Brasil. O exame realizado é não invasivo e pode ser utilizado como método de triagem para, quando necessário, efetivar o encaminhamento para a realização da densitometria óssea — um processo mediado por uma solução de saúde digital que qualifica a regulação do acesso à saúde.
Vacinação e Segurança
Na área de imunização, o LAIS desenvolveu sistemas que se tornaram modelos de gestão de risco e transparência: o RN + Vacina e o Vacina e Confia, em funcionamento nos estados do Rio Grande do Norte e Espírito Santo, respectivamente.
Juntos, os dois sistemas acumulam mais de 25 milhões de doses registradas e o cadastro de mais de 7,8 milhões de cidadãos. Em um contexto de desafios à segurança vacinal, essas plataformas permitem o monitoramento de mais de 150 imunobiológicos e a aplicação de mais de 1.200 regras de imunização, garantindo que as campanhas sejam executadas com precisão e confiança.
A plataforma de vacinação não é a única desenvolvida pelo LAIS e que vem transformando o cotidiano do SUS. O Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP+RN) vem demonstrando eficiência no atendimento aos pacientes e na gestão de recursos financeiros. “Estamos levando mais agilidade, integração e transparência à alta complexidade, posicionando o RN como referência nacional em saúde digital com foco no cidadão, na gestão hospitalar e na governança clínica”, explicou o pesquisador do LAIS, Fernando Farias.
Formação humana
Todos os registros conquistados ao longo dos mais de 15 anos de atuação do Laboratório de Inovação em Saúde contam com um suporte fundamental, calcado na formação humana. Uma das principais frentes de atuação do LAIS é o Ambiente Virtual de Aprendizagem do SUS, o AVASUS, a terceira maior plataforma digital de educação em saúde do mundo. Com mais de quatro milhões de matrículas realizadas em seus cursos e trilhas de aprendizagem, o AVASUS é direcionado para a educação permanente de profissionais em saúde.
Para o pesquisador do LAIS e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Carlos Alberto Oliveira, o AVASUS se apresenta como um ecossistema de aprendizagem ao longo da vida. Ele se conecta com o mundo, dialoga com universidades, organismos internacionais e redes de cooperação em saúde, ampliando horizontes para quem aprende e para quem ensina. Cada curso, cada trilha formativa, é uma oportunidade de transformar a prática e fortalecer o SUS. “O AVASUS representa uma política pública inovadora que democratiza o acesso à formação e rompe barreiras geográficas, sociais e tecnológicas. Ele mostra que é possível construir uma rede de aprendizagem que une profissionais, gestores, estudantes e comunidades em torno de um mesmo propósito: cuidar melhor das pessoas.
O professor Carlos Alberto de Oliveira é diretor do Instituto Multidisciplinar de Formação Humana com Tecnologias (IFHT/UERJ ) e membro do Comitê Executivo do International Council for Open and Distance Education (ICDE), em português Conselho Internacional para Educação Aberta e a Distância, principal órgão global de oferecimento de educação acessível e de qualidade por meio do ensino online, aberto e a distância. Mais de 190 instituições de ensino superior e pesquisa de 70 países fazem parte da comunidade geral do ICDE.
Uma das trilhas construídas pelos pesquisadores do LAIS tem como tema principal o enfrentamento às doenças raras, com foco nos cuidados aos pacientes. De acordo com a professora e pesquisadora do Laboratório, Karilany Coutinho, essa trilha reúne um conjunto de cursos autoinstrucionais, gratuitos e abertos ao público, desenvolvidos para apoiar profissionais de saúde, estudantes, cuidadores e qualquer pessoa interessada em compreender melhor esse tema. Os conteúdos abordam temáticas como cuidados multiprofissionais, tecnologias assistivas, aspectos emocionais, estratégias de apoio e nutrição para pessoas com ELA, sempre com linguagem acessível e recursos de acessibilidade (incluindo legendas, audiodescrição e materiais adaptados).
Todo o material que compõe essa trilha foi desenvolvido no âmbito do Projeto RevELA, coordenado pelo LAIS com o propósito de promover educação, cuidado e visibilidade para pessoas com Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) e outras condições raras. “O objetivo central é ampliar o conhecimento, fortalecer o cuidado às pessoas com doenças raras e apoiar uma prática mais humana, qualificada e inclusiva no SUS”, reafirmou a pesquisadora e também Chefe do Departamento de Engenharia Biomédica da UFRN.
Também direcionada para a formação humana, a parceria do LAIS com o Programa de Pós-Graduação de Pós-graduação em Gestão e Inovação em Saúde (PPGIS/UFRN) vem impulsionando transformações na formação de profissionais de inovação em saúde em todo o Brasil. “O Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde da UFRN, desde os primeiros passos do PPGIS, tem contribuído com o amadurecimento da Pós Graduação no desenvolvimento das inovações propostas construindo, com o Mestrado e agora com o Doutorado, um caminho onde a pesquisa se lastreia em mudanças reais a partir das pesquisas aplicadas nos projetos propostos, em ciclos de melhoria constantes que se retroalimentam na interação pesquisa-ensino-serviço-gestão (o quadrilátero do SUS), sedimentando este modelo de experiências tão exitosas”, afirmou a coordenadora, Professora Heleni Clemente.
Ao ser questionado sobre as diversas ações, conquistas e como elas refletem o trabalho do laboratório, o diretor executivo do LAIS ressaltou: “A conquista dos 150 registros no INPI não é um ponto final, mas um atestado do potencial contínuo de um laboratório que tem conseguido converter ciência de alto nível em benefício social tangível que impacta diretamente a vida do cidadão brasileiro, fazendo da inovação tecnológica em saúde um instrumento de cuidado e de desenvolvimento nacional”, finaliza Ricardo Valentim.
