Por Arthur Barbalho
Foto: Alex Régis/Prefeitura do Natal

Mais de 3 mil idosos já foram vacinados em 390 condomínios através do “Sistema de vacinação para idosos em condomínios”, desenvolvido pelo Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (LAIS/UFRN). O serviço é uma ação conjunta com o Departamento de Saúde Coletiva (DSC), Departamento de Enfermagem (DENF),  Instituto do Envelhecer, Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva (NESC), Diretoria de Atenção à Saúde do Servidor (DAS), Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGE), Escola de Saúde, Centro de Ciências da Saúde (CCS) – todos da UFRN – e Secretaria Municipal Saúde de Natal.

Mais do que números, os responsáveis pelo projeto destacam o caráter social da ação, desenvolvida como uma das iniciativas auxiliares ao enfrentamento do novo coronavírus na capital potiguar. Neste momento, garantir a vacinação e imunização dos idosos contra o vírus Influenza ajuda também no trabalho para conter a pandemia da COVID-19.

A ação é fruto do projeto de extensão “Estratégias de Apoio à Campanha de Vacinação de Idosos Contra Influenza no Município de Natal/RN – Uma ação complementar ao combate a COVID-19”. Para entender um pouco como se deu ação da equipe multidisciplinar que realiza o trabalho de campo, conversamos com o professor Kenio Costa, diretor do Instituto do Envelhecer e também pesquisador do LAIS/UFRN, que atuou como um dos coordenadores do projeto.

O docente falou sobre como se deu a organização do projeto, que contempla também ações de pesquisa dos entes envolvidos, além do panorama atual de vacinação na cidade do Natal, bem como do impacto do projeto de extensão na luta contra o novo coronavírus. Confira!

Como se deu a organização da ação e quais as unidades envolvidas?
O projeto foi concebido a partir da necessidade de apoiar as equipes de saúde da rede de Atenção Primária em Saúde do município de Natal, a gestão do Departamento de Vigilância em Saúde e a Diretoria de Atenção à Saúde do Servidor da UFRN na vacinação de idosos contra Influenza. Na prática, a iniciativa visa diminuir os riscos que esta população estaria exposta à contaminação pelo coronavírus se aglomerada em espaços coletivos. Além disso, a referida proposta objetivou ampliar a vacinação de pessoas idosas em áreas não cobertas pela Estratégia Saúde da Família (ESF), considerando que o município de Natal tem apenas 38% de cobertura da ESF.

É preciso destacar que esta é uma ação conjunta de docentes e técnicos do Departamento de Saúde Coletiva,  Departamento de Enfermagem,  Instituto do Envelhecer, Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva, Diretoria de Atenção à Saúde do Servidor, Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Escola de Saúde, Direção do Centro de Ciências da Saúde da UFRN e Secretaria Municipal Saúde de Natal.

Quantos condomínios foram atendidos através do projeto até o momento?
Inicialmente foram cadastrados 607 condomínios na plataforma Vacina Natal (a plataforma compõe o Ecossistema Tecnológico desenvolvido pelo LAIS para auxiliar a Secretaria Estadual de Saúde Pública no combate à pandemia). Destes, 37 condomínios não estavam localizados no município de Natal, totalizando, portanto, 570 condomínios. Tivemos 180 condomínios foram invalidados na plataforma por estarem em duplicata ou  já terem vacinados todos os idosos quando contatados para agendamento da vacinação. Assim, atendemos 390 condomínios da capital, sendo aplicadas 3.439 doses de vacinas até o momento.

E como está o panorama da vacinação de idosos de maneira geral em Natal?
De acordo com o Departamento de Vigilância em Saúde (DVS) da SMS Natal, até o dia 22 de abril foram vacinadas 95.644 pessoas idosas, correspondendo a uma cobertura de 112,01%. Ou seja, superamos a meta estipulada pelo Ministério da Saúde de vacinar aproximadamente 86 mil pessoas idosas. Ressalta-se que dentro deste total de vacinados, há pessoas residentes em outros municípios que foram vacinadas na capital, e ainda há dados não consolidados nos sistemas de informação.

Em resumo, como se dá na prática o trabalho das equipes que fazem a vacinação?
O trabalho iniciou-se pela consulta à Plataforma Vacina Natal, desenvolvida pelo LAIS, realizada pelo Instituto do Envelhecer e Departamento de Saúde Coletiva, de onde foram captadas os condomínios e suas respectivas listas de pessoas idosas cadastradas pelos síndicos. A partir desse levantamento, foram organizadas rotas de atendimento aos condomínios, de acordo com o número de pessoas cadastradas. Iniciou-se pelos condomínios com maior número de idosos (entre 70 e 200 pessoas idosas), considerando o maior risco sanitário. Em seguida, contatamos os síndicos dos condomínios selecionados para orientá-los acerca da organização, higienização e desinfecção do espaço necessário para vacinação, de como deveria ocorrer o fluxo de idosos durante a vacinação e identificação dos professores que foram até seus condomínios.

Cada equipe de vacinadores foi constituída por três ou quatro profissionais, de acordo com a disponibilidade dos docentes e alunos de pós-graduação. As equipes são compostas por representantes do Departamento de Enfermagem e  Escola de Saúde, e dos departamentos de Farmácia, Odontologia e Saúde Coletiva. As equipes de vacinadores reúnem-se na sede do Departamento de Vigilância em Saúde, onde são distribuídos os imunobiológicos e insumos necessários para vacinação (seringas, agulhas, boletins de registro, cartões de vacina, entre outros). O equipamento de proteção individual (máscaras, luvas, gorros e aventais descartáveis) utilizado pelas equipes foi cedido pela direção do Centro de Ciências da Saúde da UFRN e complementado pela SMS Natal. Além destes, foram doados 30 protetores faciais produzidas pelos integrantes do Pet-Saúde Interprofissionalidade da UFRN, para uso dos vacinadores.

A equipe é composta por um organizador/interlocutor, que faz o contato com os síndicos, um registrador que verifica os dados das pessoas idosas e realiza o registro da vacina na carteira de vacinação da pessoa e no mapa do DVS, e dois vacinadores que preparam e administram a vacina.

Na sua opinião, como este trabalho impacta no combate à Influenza? E como isto reflete também ao enfrentamento da pandemia do novo coronavírus?
As ações desse projeto impactam no combate à Influenza porque ampliam a cobertura vacinal para as tipos do respectivo vírus, diminuindo o risco de adoecimento de síndromes respiratórias, que têm como agentes etiológicos esses vírus, comuns nesta época do ano.

É importante destacar e esclarecer para a população que esta vacina não protege contra a infecção pelo novo coronavírus. No entanto, ao proteger a população idosa, a vacina evita que as infecções por Influenza sobrecarreguem o sistema respiratório dessas pessoas e, consequentemente, o sistema de saúde. Ademais, a vacinação contra a Influenza minimiza o risco de coinfecção Influenza/coronavírus, o que facilita o diagnóstico diferencial entre a gripe e a COVID-19. Se a pessoa vacinada apresentar sintomas como tosse e falta de ar, provavelmente não será o vírus Influenza o causador.

A ação é importante ainda por evitar que pessoas idosas se exponham em aglomerações nos postos de vacinação ou unidades de saúde, uma vez que hoje o isolamento social é a melhor maneira para evitar a transmissão da COVID-19.