Os números da sífilis no Brasil são muito preocupantes. Em outubro de 2016, por exemplo, o Ministério da Saúde decretou a epidemia diante dos altos índices de novos casos da doença no país.
Desde 2010, por exemplo, quando os serviços de saúde de todo o país passaram a ser obrigados a notificar os casos de sífilis adquirida para o ministério, foram registrados quase 480 mil novos casos. Entre os anos de 2016 e 2017 houve um aumento de 32% nos casos de sífilis entre adultos – e mais de 28% em mulheres grávidas.
Aumento na taxa de detecção da sífilis adquirida, que passou de 44,1 casos a cada 100 mil habitantes em 2016 para 58,1 casos a cada 100 mil habitantes em 2017. “Houve aumento na detecção da sífilis em gestantes, passando de 38 mil casos em 2016 para 49 mil casos em 2017. O que representa 134 gestantes detectadas com sífilis por dia no Brasil”, explica a médica Adele Benzaken, diretora do Departamento de IST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde.
Segundo ela, houve aumento, ainda, no número de mortes por sífilis congênita, que passou de 195 óbitos em 2016 para 206 casos óbitos em 2017.
No Brasil, a população mais afetada pela sífilis são as mulheres, principalmente as negras e jovens na faixa etária de 20 a 29 anos. Esse grupo representa 14,4% de todos os casos de sífilis adquirida e em gestantes notificados. Na comparação por sexo, as mulheres de 20 a 29 anos alcançam 26,2% do total de casos notificados, enquanto os homens nessa mesma faixa etária representam apenas 13,6%.
A maior parte dos casos ocorre na Região Sudeste (56%), a mais urbanizada e desenvolvida do país. Em 2017, foram 61.745. O valor é 13 vezes maior do que a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera aceitável.
Notificação compulsória
Em 1986 foi instituída a notificação compulsória de sífilis congênita (Portaria nº 542 de 22 de dezembro de 1986). Em 2005 foi instituída a notificação compulsória da sífilis em gestante (Portaria nº 33 de 14 de julho de 2005). E por último, em 2010, a de sífilis adquirida, por intermédio da Portaria nº 2.472 de 31 de agosto de 2010.
Uma das prováveis causas para essa doença curável ter virado uma epidemia pode estar ligada a queda no uso da camisinha. Em 2004, por exemplo, 58,4% dos jovens de 15 a 24 anos usavam preservativo em relações casuais. Em 2013 (ano da pesquisa mais recente do Ministério da Saúde sobre o assunto), o número baixou para 56,6%. Em relações estáveis, a proporção dos que usam é parecida: em 2004 eram 38,8%; em 2013, 34,2%.
Outra questão a se considerar é que a acessibilidade da penicilina pode ter mudado o seu status de aliada para inimiga. O preço baixo, que deveria facilitar o acesso da população à droga, desestimula a indústria farmacêutica a fabricá-la. Nesse cenário, em 2015, o medicamente faltou nas prateleiras do Brasil.
Apesar de a compra ser de responsabilidade de estados e municípios, o Ministério da Saúde passou, em 2016, a centralizar as aquisições dos produtos para garantir o acesso da população aos medicamentos, uma vez que os entes federativos isolados estavam com dificuldades em adquirir o remédio. Entre 2016 e setembro de 2017, foram entregues 2.175.000 frascos-ampola de penicilina benzatina.
Outra mudança realizada para ampliar o atendimento se referiu à parte operacional. Isso porque, até julho de 2015 a aplicação do medicamento pela equipe de enfermagem dos locais era restrita. Porém, em 2017 o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) publicou uma nota técnica revisando a recomendação e afirmando que os profissionais da área estavam aptos a administrar a medicação mediante prescrição médica ou de enfermagem. “A enfermagem tem um papel fundamental no controle da sífilis. Os riscos do não-tratamento superam, e muito, o de ocorrências adversas”, afirmou o conselheiro federal Vencelau Pantoja.
Fonte: Revista Metrópoles