Por Bruno Cássio – Assessoria de Comunicação do LAIS/UFRN
Quando a primeira versão do Ambiente Virtual de Aprendizagem do SUS (AVASUS) entrou no ar, não se imaginava que, em menos de 10 anos de criação, a plataforma ultrapassasse a marca de 1 milhão de alunos matriculados. O mês de maio de 2023, em que esses números foram alcançados, entrará para a história de sucesso dessa iniciativa que, além de contribuir com a qualificação de profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil, tem levado informação baseada em evidências científicas para outras regiões do mundo, atuando assim, como uma importante ferramenta estratégica de saúde pública, alinhada com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 das Organizações das Nações Unidas (ONU).
“Com o uso da tecnologia para a aprendizagem, nós estamos melhorando a oferta educacional para profissionais de saúde, trabalhando com dois Objetivos do Desenvolvimento Sustentável: o objetivo 4, que trata da educação de qualidade, equitativa, com acesso para todos; e com o ODS 3, que trata da saúde, efetivamente”, é o que destaca o vice-Diretor do Instituto Multidisciplinar de Formação Humana com Tecnologias (IFHT), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Carlos Alberto Oliveira. O pesquisador participou do processo inicial desse Ambiente Virtual de Aprendizagem e chama atenção para o trabalho de cooperação horizontal com outros países que necessitam da troca de conhecimentos na área.
Foi conectando saberes, além das fronteiras geográficas, que os módulos do AVASUS chegaram até a Tanzânia, país do continente africano com lugares com condições precárias de saneamento básico e carência de profissionais de saúde. Nesse contexto, a figura do voluntário de saúde comunitária, em localidades rurais, é essencial como estratégia de prevenção de doenças. Aluno da plataforma, Rafael Silva, que atua como missionário das instituições Jovens com Uma Missão (JOCUM) e Acts of Life, na Tanzânia, enxergou a possibilidade de formar novos agentes voluntários de saúde em uma maior escala e, para isso, pediu apoio ao Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS/UFRN) — que gerencia o AVASUS, em parceria com a Secretaria de Educação a Distância (SEDIS/UFRN), com apoio do Ministério da Saúde —, para que essa iniciativa pudesse chegar ao solo da África.
“A educação que liberta, liberta da escravidão de doenças, através da educação em saúde, comunidades inteiras perceberam, na execução do conhecimento adquirido, uma melhora constante na qualidade de vida e a maravilhosa sensação da diminuição da reincidência de doenças que os mantinham como escravos na região de Morogoro”, destaca o missionário ao analisar os impactos do acesso às informações em saúde produzidas e compartilhadas em “suaíli”, principal idioma da Tanzânia. Mas é no Brasil, onde encontramos vários exemplos de como o AVASUS contribuiu com a indução de políticas públicas na área da saúde.
De acordo com o diretor executivo do LAIS/UFRN, Ricardo Valentim, a plataforma tem sido fundamental durante crises sanitárias: “nós tivemos, depois de 2014, a Zika, que veio depois da Copa do Mundo e estava muito associada à questão da microcefalia. Rapidamente, o Ministério da Saúde mobilizou o AVASUS para ser uma ferramenta de indução da formação humana dos profissionais de saúde e da população. Outro exemplo de atuação foi no enfrentamento à sífilis; com a produção de mais de 60 módulos, contabilizando mais de 270 mil matrículas, somente na formação e na qualificação sobre sífilis no Brasil e, por fim, a pandemia de covid-19. Mais uma vez, nós conseguimos disponibilizar, rapidamente, a primeira oferta nacional sobre Sars-Cov-2, o coronavírus, e esse foi um curso que alcançou mais de 90 mil estudantes no Brasil e em outras regiões do mundo”, concluiu.
Segundo a gestora e pesquisadora em Saúde, Patrícia Bezerra, que tem experiência em temas como: inovação em saúde, saúde digital, educação em saúde, atenção primária à saúde e recursos educacionais mediados por tecnologias, “o AVASUS contribui para integração dos trabalhadores do SUS porque oferta, de forma confiável, educação em saúde, garantindo, atualização constante e informações significativas para o dia-a-dia do trabalho de modo a ampliar a qualificação da assistência à saúde no Brasil”. No mapa brasileiro de desigualdades sociais, econômicas e regionais, a garantia de conectar-se ao conhecimento de forma aberta e gratuita tem contribuído com a mudança de realidades.
Aprimoramento
“O acesso à plataforma AVASUS foi de grande relevância para aprimorar meus conhecimentos, realizei o curso ‘Sífilis: Patogênese, desenvolvimento da resposta imune e métodos diagnósticos’ e foi possível ter mais clareza sobre diagnóstico e resposta imune à sífilis, que ainda gera muitas dúvidas entre os profissionais de saúde”, afirma Aldelice Ferreira, Coordenadora da Área Técnica de Sífilis em Rio Branco, a capital do estado do Acre, na Região Norte. Ainda segundo Ferreira, esse módulo ajudou a aprimorar “os processos e vivências no trabalho, frente à prevenção, diagnóstico, tratamento e monitoramento do agravo de sífilis”.
No estado do Mato Grosso do Sul, no Centro-Oeste do país, a psicóloga sanitarista, Vera Lucia Kodjaoglanian, acompanhou e participou da evolução da plataforma que atua com a Educação Permanente em Saúde. De acordo com a profissional que tem décadas de experiência em saúde pública, “o AVASUS contribui sobremaneira para a qualificação dos profissionais de saúde, uma vez que trata de assuntos centrais e relevantes em todos os níveis de atenção à saúde, oportunizando a todas as regiões do Brasil a troca de experiências e boas práticas em saúde”.
Na Região Nordeste, essa percepção não é diferente. “O AVASUS é um ferramental diferenciado da aplicação do ensino aberto, flexível e a distância, tendência mundial e um excelente exemplo de sucesso em experiências de aprendizado”, declarou Cristine Gusmão, professora do Departamento de Engenharia Biomédica da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). “Os conteúdos e cursos acessíveis no AVASUS permitem o avanço e compartilhamento do conhecimento, definição de políticas públicas, além de contribuir para a construção de um sistema de saúde resiliente”, enfatizou a docente pernambucana.
“O AVASUS é um divisor de águas na história da Escola de Saúde Pública do Paraná, pois foi a primeira a ter uma instância do AVASUS instalada. Nós podemos customizar nossas ofertas educacionais a distância e chegar à grande maioria dos profissionais de saúde e à população”, declarou Aldiney Doreto, coordenador da Divisão de Tecnologias Aplicadas à Educação na Saúde, da Escola de Saúde Pública do Paraná (ESPP), no Sul do país. Ainda segundo Doreto, são ofertados 200 módulos educacionais para 399 cidades paranaenses: “o profissional de saúde, mesmo estando nos menores municípios do estado, tem as condições de acessar as formações que a Escola realiza e conseguir contribuir para a melhoria do sistema de saúde”, esclareceu.
AVASUS contribui com Centro Colaborador da OPAS/OMS
As expertises, acumuladas ao longo do processo inovador do AVASUS, contribuíram para que o LAIS/UFRN fosse transformado em Centro Colaborador da Organização Pan-Americana da Saúde, organismo vinculado à Organização Mundial da Saúde (OMS) para as Américas, sendo o primeiro da Região Nordeste do Brasil. Em abril de 2022, o LAIS/UFRN tornou-se “Centro Colaborador em Inovação na Educação Virtual para a Saúde”. Confira a lista completa dos Centros Colaboradores existentes no país.