Por Jordana Vieira – Assessoria de Comunicação do LAIS/UFRN
Levar em consideração a interculturalidade nos processos da área da saúde tem se mostrado essencial para garantir a proteção, a promoção e a recuperação do bem-estar em cada comunidade. Um artigo sobre essa temática no Ambiente Virtual de Aprendizagem do SUS (AVASUS), intitulado “Interculturality, public health and health education: data report based on the Virtual Learning Environment of the Brazilian Health System (AVASUS)”, foi recentemente publicado na revista científica de relevância internacional, Frontiers in Public Health, que divulga desenvolvimentos científicos em todos os campos de pesquisa em saúde pública, com o objetivo de ampliar a compreensão de doenças, promover intervenções baseadas na comunidade e explorar a prevenção em nível comunitário e individual.
O estudo de Priscila Cunha, doutoranda em Relações Interculturais pela Universidade Aberta de Portugal (Uab/PT) e pesquisadora do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS/UFRN), contou com a orientação da professora do Departamento de Engenharia Biomédica (DEB/UFRN), Karilany Coutinho, e foi desenvolvido em parceria com os demais autores, e pesquisadores do LAIS/UFRN, Natália Araújo do Nascimento Batista, Felipe Fernandes, Ingridy Barbalho, Manoel H. Romão, Karla Coutinho, Janaina Valentim, Juciano de Sousa Lacerda, Aline de P. Dias, Susana Henriques, Ricardo Valentim, Fátima Alves e Karilany Coutinho.
Na área da saúde, a interculturalidade é definida pela interação e diálogo entre diferentes sistemas de saúde, saberes, práticas e culturas, promovendo o reconhecimento da diversidade para oferecer um cuidado mais justo e adequado às necessidades de populações vulnerabilizadas ou com identidades culturais específicas, como migrantes e povos indígenas. Essa abordagem vem ganhando cada vez mais relevância conceitual e operacional, uma vez que a diversidade cultural dos grupos populacionais gera uma miríade de necessidades e demandas por serviços de saúde.
Para Coutinho, a interculturalidade tem sido incorporada de várias formas nos cursos do AVASUS, “em geral, a interculturalidade no AVASUS aparece na valorização da diversidade cultural e na criação de cursos que dialogam com diferentes saberes e práticas de saúde. O artigo cita exemplos concretos, contendo temáticas que abordam desde a saúde indígena, saúde prisional e atenção à saúde de populações-chave (como por exemplo, pessoas vivendo com HIV/AIDS), considerando suas especificidades socioculturais”.
No Brasil, se tem feito um reforço de iniciativas de atenção à saúde indígena e das Pessoas Privadas de Liberdade, no âmbito da atenção primária à saúde. A utilização de Cursos Online Abertos e Massivos (MOOCs), mediados por tecnologia, como é o caso do AVASUS, se tornou uma estratégia inovadora no processo de formação em saúde sob uma perspectiva intercultural para os profissionais da área, tornando-os mais conscientes culturalmente e sensíveis à diversidade sociocultural.
Na visão de Cunha, o artigo mostra que a educação permanente em saúde, pensada na perspectiva da interculturalidade, fortalece o SUS como um sistema inclusivo, equitativo e adaptado às realidades locais. “Isso significa que profissionais melhor preparados podem oferecer um atendimento mais humano, respeitoso e conectado à diversidade da população brasileira. Para a sociedade, o impacto é duplo: amplia-se a qualidade do atendimento em saúde e fortalece-se o direito à saúde como um bem universal, princípio basilar do SUS”, afirma.
A pesquisa realiza a análise, a partir de dados extraídos do AVASUS, abrangendo 16 cursos da área de Atenção Primária à Saúde. Foram analisados dados de 99.080 matrículas e atributos, abrangendo o período de 3 de dezembro de 2021 a 27 de fevereiro de 2025. Destacaram-se os elementos de interculturalidade identificados: Atenção Primária à Saúde como espaço de encontro de saberes diversos; diversidade de contextos regionais e socioculturais dos participantes dos cursos; e valorização de dados que demonstrem práticas formativas sensíveis às características e especificidades locais.
O estudo se mostra significativo para o AVASUS, tendo em vista, que permitiu avaliar o impacto e a relevância da formação em saúde no Brasil através dos cursos ofertados, na perspectiva da interculturalidade. A professora ainda acrescenta que “a análise pode servir também como uma ferramenta de avaliação e de planejamento, o que auxilia a aprimorar a formação, a otimizar políticas, a entender melhor o público e a reforçar o papel na promoção de uma educação em saúde mais inclusiva e equitativa no Brasil”.
A análise dos dados ainda permite observar as necessidades reais dos profissionais e população, a partir dos usuários que estão acessando os cursos, quais áreas têm maior adesão, como os profissionais avaliam os conteúdos e quais grupos têm maior ou menor participação. A doutoranda ressalta que “essa análise ajuda a identificar lacunas — como profissões pouco representadas ou regiões com baixa participação — e orientar políticas de formação mais direcionadas. Isso significa que conseguimos compreender como a educação em saúde pode reduzir desigualdades e apoiar a construção de um atendimento mais equânime”, finaliza.