Mesmo sendo uma infecção milenar, a sífilis está presente em diversos países do mundo. No Brasil, a prevenção a essa infecção sexualmente transmissível conta com suporte do Projeto Sífilis Não, desenvolvido desde 2018. A experiência vivenciada pelo projeto, que acontece em todo o Brasil, é tema do Seminário Internacional de Integração da Pesquisa 2021: Um Olhar para a Sífilis no Brasil e em Portugal”. O evento é realizado virtualmente, contando com a participação de pesquisadores dos dois países.

Em dois dias de debates, os trabalhos foram abertos com a apresentação do Projeto Sífilis Não, desenvolvido pelo Ministério da Saúde em uma parceria com a UFRN, por meio do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS) e o Núcleo de Saúde Coletiva (NESC). A apresentação foi feita pelos pesquisadores Carlos Alberto de Oliveira e Milena Duarte. Logo em seguida, o diretor executivo do LAIS, professor Ricardo Valentim, fez uma contextualização da sífilis no Brasil, com os principais dados, inclusive, coletados pelo projeto durante seu desenvolvimento.

Por Portugal, as participações ficaram a cargo da professora da Escola Superior de Enfermagem, da Universidade de Coimbra, dra. Aliete Cunha, e do médico Pedro Pereira, professora da Escola de Medicina de Braga, na Universidade do Minho. Os pesquisadores portugueses apresentaram um levantamento histórico da IST no país e na Europa e um pouco sobre a legislação e o sistema de atendimento realizado na rede de saúde.

Para a pesquisadora portuguesa, o seminário se constitui em uma oportunidade importante para a promoção da troca de experiência entre Brasil e Portugal. “Todo esse diálogo tem como base vivência do LAIS no desenvolvimento do Projeto Sífilis Não, com o expertise conquistado pelo desenvolvimento de ações de educação e de saúde. As melhores estratégias estão sendo apresentadas pelo LAIS”, argumentou.

Cooperação Internacional
O seminário é uma das ações que está sendo desenvolvida pelos pesquisadores do LAIS durante a viagem à Portugal, prevista dentro das articulações de cooperação internacional desenvolvidas pelo laboratório. Além do seminário, outras duas pesquisas do Projeto Sífilis Não também estão sendo desenvolvidas, de forma colaborativa. Ambas envolvem métodos computacionais aplicados ao diagnóstico de pacientes com sífilis. A primeira é direcionada para Sífilis Ocular, um problema grave de difícil diagnóstico que tem afetado o Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil, mas que também é um problema na saúde global. A segunda, está situada no campo do processamento digital de sinais para o diagnóstico da Sífilis congênita.

Um dos trabalhos que vem sendo executado juntamente com pesquisadores da Universidade de Coimbra diz respeito ao desenvolvimento de um teste, que já está avançando na etapa de pesquisa clínica. O teste tem como função validar um biossensor que tem melhor eficácia com relação ao diagnóstico da sífilis congênita. De acordo com a pesquisadora Daniele Montenegro, membro da equipe do LAIS, essa inovação será um suporte importante e complementar ao diagnóstico realizado pelos médicos. “É como uma segunda opinião, auxiliando no diagnóstico.”

O uso do biossensor poderá trazer diversas vantagens para o Sistema de Saúde, por meio de uma metodologia utilizada no diagnóstico baseada em VDRL, de alta sensibilidade para a sífilis congênita, com um nível maior de precisão.

“As pesquisas já estão em andamento no Brasil, a primeira em sua fase mais inicial, portanto, estamos investigando todo o arcabouço teórico para fundamentar os estudos e a segunda está mais avançada, com dados e experimentos que foram realizados em 2019 na ConquerX da Universidade de Massachusetts em Boston/MA/EUA”, conforme explicou o diretor executivo do LAIS, professor Ricardo Valentim.

E também estudos na área de política pública, onde entram as questões das intervenções no território, para a mitigação da questão da sífilis congênita. A missão de cooperação internacional é bastante ampla. Em breve terá um mês de atividades com diversos pesquisadores do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde, pessoas da área de administração e de engenharia de produção, que fazem a análise da política pública com relação à intervenção no território, para a mitigação da questão da sífilis congênita.

Ainda sobre as pesquisas, o professor Valentim ressaltou que há diversas pesquisas em desenvolvimento, tanto na área de comunicação para o enfrentamento à sífilis e outras ISTs no âmbito do enfrentamento, reconhecendo que o Brasil vive uma epidemia de Sífilis desde 2017 e que esta epidemia vem sendo enfrentada por meio do projeto “Sífilis Não” desde 2018.

Para o pesquisador Leonardo Lima, a Leonardo Lima, a missão é fundamental para o desenvolvimento da pesquisa da sífilis, acelerando processos na publicação de artigos e no desenvolvimento do protótipo, além do estreitamento das relações que o LAIS tem com outras instituições. “Todas essas ações estavam planejadas desde o início do projeto, mas tiveram que ser replanejadas por conta da pandemia. Mas é fundamental que as atividades sejam retomadas para que se possa alcançar os objetivos traçados. A expectativa é de que seja um período bastante produtivo, seguindo um plano de trabalho para o avanço das metas traçadas”, argumentou.

Articulação Internacional
Um dos eixos importantes do projeto “Sífilis Não” diz respeito às questões de internacionalização da pesquisa e o LAIS tem feito grandes articulações internacionais com a França, Portugal, Estados Unidos e Espanha, fechando cooperações internacionais com universidades que desenvolvem pesquisas com expertises nos eixos do projeto. “Entre eles está o desenvolvimento de tecnologia e inovação e na área de comunicação. Por isso, as missões atuais com essas duas universidades têm este enfoque”, explicou o diretor do Laboratório.

O LAIS tem acompanhado o consenso internacional sobre a importância da cooperação técnica, científica e tecnológica para ampliar o acesso ao conhecimento e novas tecnologias em favor do fortalecimento institucional, da qualidade das políticas públicas e do progresso dos países.

A perspectiva é avançar em vários pontos. Um deles são as publicações científicas no âmbito internacional, com trabalhos científicos resultantes dessa cooperação participando do IV Congresso Latino-Americano de IST/HIA/AIDS, marcado ainda para este primeiro semestre.

Também consta do planejamento, a organização de um simpósio internacional, envolvendo a Universidade Aberta de Portugal, a Universidade de Coimbra e a UFRN. O evento deverá contar com a participação de pesquisadores do Brasil, Canadá, Estados Unidos, Espanha, França e Portugal. A programação será toda direcionada para questões do enfrentamento à sífilis. Alguns desses trabalhos articulados com a UaB, deverão ser publicados no evento de DST, que ocorrerá no meio do ano, com publicações de pesquisadores brasileiros com pesquisadores portugueses. O Simpósio deve ocorrer até o final de 2021.

Para Ricardo Valentim, todas essas ações mostram o protagonismo do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde na coordenação de cooperações internacionais importantes para o país, para o Rio Grande do Norte e para a Universidade Federal do Rio Grande do Norte. “As nossas ações têm como um dos focos principais colocar o Brasil e o LAIS dentro desse contexto dos players no âmbito da saúde global para o enfrentamento da epidemia de sífilis e outras ISTs”, finalizou.