Por Valéria Credidio – Assessoria de Comunicação do LAIS/UFRN
Renata procurou a unidade de saúde de seu bairro, assim que descobriu a gravidez. Atendida pela equipe, foi encaminhada para fazer todos os exames necessários a fim de garantir a sua saúde e do bebê. Entre eles, a futura mamãe fez o teste para sífilis, que deu positivo. Diante do resultado, Renata foi encaminhada para o tratamento e acompanhamento, evitando a transmissão da IST para seu filho.
O relato acima descrito, apesar de fictício, ocorre frequentemente nas unidades de saúde em todo o Brasil e indica a mudança de postura dos profissionais, com ênfase na prevenção, testagem e cura da sífilis. Como consequência, o aumento nas testagens e na possibilidade de tratamento de mães e bebês.
O principal instrumento para essa mudança de comportamento foi a trilha formativa, disponível no Ambiente Virtual de Aprendizagem do SUS (AVASUS). A trilha “Sífilis e outras IST”, que já contabiliza mais de 278 mil matriculados, foi elaborada pela equipe do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS/UFRN) em mais uma ação do Projeto “Sífilis Não”.
Essa trilha formativa tem como objetivo ofertar módulos educacionais que abordam a temática Sífilis e outras IST a partir de aspectos históricos, clínicos, diagnóstico, tratamento; vigilância; processo de trabalho; além de temas transversais necessários à formação dos profissionais de saúde e público em geral, para o enfrentamento à sífilis.
A procura intensa pela formação virtual reforça a importância da aprendizagem ao longo da vida em saúde com acesso ao conhecimento de qualidade, de forma livre e aberta, para todos, principalmente de temas que eram negligenciados como o enfrentamento à sífilis.
O pesquisador do LAIS/UFRN, Carlos Alberto Oliveira, enfatiza que essa qualificação vem salvando vidas em todo o Brasil, uma vez que a cada profissional formado há uma mudança de postura e melhoria do atendimento na atenção básica. “A mediação tecnológica é o caminho. Conseguimos verificar que na medida em que mais e mais pessoas vão fazendo cursos na trilha aprendizagem da sífilis, em particular, elas acabam impactando no seu local de trabalho”, afirmou.
Todo material foi elaborado em um trabalho realizado de maneira interdisciplinar, envolvendo profissionais das áreas de Comunicação; Educação; Tecnologia da Informação; Saúde; Design e Jornalismo. Houve forte interação entre os eixos da Educação e Comunicação do Projeto “Sífilis Não”. “Os produtos desta trilha também foram resultado de pesquisas de mestrado e de doutorado desenvolvidas em universidades nacionais e estrangeiras, por meio de cooperações internacionais feitas com a Universidade de Coimbra e a Universidade Aberta de Portugal, onde alunos produziram dissertações e/ou teses na interface Educação, Saúde e uso da mediação tecnológica”, explica a professora Aline Pinho, uma das responsáveis pedagógicas pelo material.
Os resultados são sentidos na prática, com a mudança na forma de atendimento na Atenção Básica. Vânia Priamo, profissional de saúde, na Bahia, foi uma das mais de 270 mil pessoas inscritas na formação. Para ela, o enfrentamento à sífilis ainda é um desafio na saúde pública, exigindo um preparo nos âmbitos da Vigilância, da Atenção e na Gestão da Saúde. “Foi através da participação em sete cursos autoinstrucionais que obtive uma melhor compreensão sobre o agravo, o que contribuiu em importantes pactuações e diálogos com equipes de saúde, equipes de gestão e com controle social”, reforça Priamo.
Além dos profissionais da saúde, a formação é direcionada, também, para a formação de educadores, profissionais que atuam no sistema prisional e demais profissionais que não são profissionais da saúde, mas trabalham diretamente para melhoria da saúde, como assistentes sociais, magistrados, entre outros.
Comprovação científica
Todos os bons resultados obtidos com a formação dos profissionais foram comprovados por meio de uma pesquisa realizada pelos pesquisadores do LAIS, que resultou no artigo “Educação em Saúde Massiva por Mediação Tecnológica: Análises e Impactos na Epidemia de Sífilis no Brasil”. A publicação foi destaque na revista científica Frontiers, periódico de relevância internacional.
O artigo aponta para a relevância da educação permanente em saúde como ferramenta de resposta às crises de Saúde Pública e da capacidade dos pesquisadores brasileiros têm de fazer análise de política pública e das ferramentas para a sua indução. “Os dados demonstram como o investimento em formação humano, no caso da saúde, pode auxiliar na condução de políticas públicas, mudar processos de trabalho e qualificar melhor os serviços de saúde, deixando o país mais resiliente frente às crises”, argumentou o diretor executivo do LAIS, Ricardo Valentim, um dos autores do trabalho.
Esse trabalho foi tema de um dos episódios do TerCiência, projeto de divulgação científica promovido pelo “Sífilis Não” e por pesquisadores do LAIS/UFRN. Clique aqui para conferir esse conteúdo.