Durante os primeiros dias do mês de fevereiro, foi iniciada a primeira fase nacional de coleta de dados para a pesquisa intitulada, “Os aplicativos geossociais de encontro e o aumento da sífilis em Homens que fazem Sexo com Homens (HSH) durante a pandemia de covid-19 no Brasil”. A pesquisa é coordenada pelo professor Kenio Costa Lima, e tem como responsável o pesquisador e doutorando do Programa de Ciências da Saúde da UFRN, Paulo Roberto Queiroz.
Nesta primeira fase estão sendo recrutados usuários dos aplicativos Grindr ®️, Scruff ®️ e Hornet®️ de todo o Brasil, para que todos respondam um questionário sobre aspectos sociodemográficos, comportamento sexual, questões de saúde, conhecimento sobre a sífilis e aceitabilidade de informações sobre esta doença nesses aplicativos.
Em entrevista cedida à equipe de comunicação do LAIS, o doutorando Paulo, fala um pouco sobre mais aspectos da pesquisa que está sendo desenvolvida, e seus resultados que mesmo em sua fase inicial já reforçam a importância de realizar pesquisas no âmbito da saúde.
1) Como surgiu a proposta de pesquisa?
A proposta da pesquisa surgiu a partir da necessidade de entender a influência que o uso dos aplicativos geossociais de encontros de HSH, têm sobre o aumento de casos de sífilis em usuários destes Apps durante a pandemia da Covid-19 no Brasil.
Os Homens que fazem sexo com Homens (HSH) estão inseridos em um grupo populacional que, usualmente, apresenta mais vulnerabilidades a Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), sobretudo, para sífilis.
Uma recente estimativa feita na América Latina e Caribe , demonstrou prevalência entre HSH de 7,5% (IC de 95% 7,0-8,0) e 10,6% (IC de 95% 8,5-12,9), respectivamente, o que é considerado alto.
Ademais, além de tal prevalência, é válido destacar o uso de aplicativos geossociais de encontro (Apps) como intensificador da questão, ja que sabe-se que em muitos países do mundo, tem-se evidenciado o maior risco de IST em HSH associado, intimamente, à lógica de busca online por parcerias sexuais por meio de aplicativos móveis do que a outras formas de encontro off-line.
2) Quais os parâmetros foram utilizados para escolher as redes sociais onde ocorrem a pesquisa?
A escolha deu-se devido uma pesquisa mercadológica que aponta o SCRUFF®️, Hornet®️ e o Grindr®️ como aplicativos mais usados/acessados por Homens que fazem Sexo com Homens (HSH) em todo o país. Sendo o Grinder, o primeiro aplicativo desse tipo com cerca de 2,4 milhões de usuários ativos diariamente em quase 200 países. Os três aplicativos somam 50 milhões de usuários em todo o mundo, de acordo com as informações de suas plataformas.
3) Hoje existe uma grande preocupação em relação aos dados pessoais. A pessoa que optar por participar da pesquisa terá os dados expostos de alguma forma? Ou a participação ocorre de maneira sigilosa, sem que seja feita qualquer identificação?
A participação ocorre de maneira sigilosa/anônima, sem qualquer identificação das pessoas convidadas para participar da pesquisa.
4) Tendo em vista os resultados, o que você espera colher com os dados?
Obter informações capazes de reduzir os impactos causados pela sífilis na saúde das pessoas. Ainda sobre esta questão, acrescento que mesmo o estudo estando em fase inicial, este já tem impactado positivamente sobre as questões de Saúde dos participantes do estudo, pois, alguns usuários já fizeram questionamentos acerca desta questão.
Perguntas como: ” o que é sífilis? “, “o que causa sífilis?”, “onde tomo PrEP?” e “O que é PrEP?”, mostraram-se presentes nas interações. O que faz inferir a importância e efeito do estudo sobre a vida dos usuários desse APPS.
5) Em tempos onde a tecnologia é cada vez mais presente na vida das pessoas, como você vê a participação das redes sociais neste processo de enfrentamento de IST?
Os estudos já apontam que os usuários desses aplicativos aceitam receber informações de prevenção acerca das IST nessas redes sociais, já que com o advento da era digital, as plataformas, na atualidade, representam um dos principais locais para mediação de parcerias sexuais, sendo uma importante ferramenta de comunicação. O que mostra, logo, o quão promissora tal meio pode ser para levar medidas importantes capazes de mitigar a epidemia de sífilis e outras IST.