Por Thays Teixeira – do LAIS/UFRN

A educação mediada por tecnologia tem sido um desafio para muitos professores e professoras das escolas públicas, especialmente com a condição derivada do isolamento social pela COVID-19.

A oferta gratuita de cinco cursos à distância com temas direcionados a professores de escolas públicas brasileiras começou a partir dessa quarta-feira (29), visando qualificar profissionais da educação na área tecnológica e reduzir esse impacto. Os cursos estão na plataforma Mandacaru/AVAProex da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

“Os cursos foram produzidos para que sejam autoinstrucionais, que estejam com a qualidade e diretrizes requeridas para educação a distância, porque nem toda atividade feita de forma remota é necessariamente educação a distância, em seus princípios como área”, explica a secretária de Educação a Distância da UFRN, Carmem Rêgo.

A educação a distância requer planejamento, produção de materiais, pensar em ferramentas interativas síncronas e assíncronas. Não é apenas transpor a aula presencial e passar a ministra-la no computador ou outros dispositivos tecnológicos. “Nós temos que utilizar as tecnologias a favor da educação, do ensino-aprendizagem”, reitera Carmem.

Eloiza da Silva Gomes de Oliveira, professora Titular da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pesquisadora do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS/UFRN), destaca a relevância dos ambientes virtuais de aprendizagem (AVA) na formação dos professores da educação básica, especialmente de escolas públicas. “Nos cursos de formação de professores, em geral, eles não são capacitados para utilizar a mediação tecnológica, isso explica porque essa situação de pandemia pegou muitos de surpresa”, comenta a estudiosa da área de educação tecnológica.

Esse cenário reforça a relevância da existência de cursos de capacitação na área tecnológica para professores de escolas públicas, especialmente porque o uso da mediação tecnológica no ensino-aprendizagem não é algo que se implante de uma hora para outra.

Eloiza de Oliveira comenta que por essa razão as plataformas precisam ser amigáveis, resolutivas e responsivas e assim garantir que os professores possam dominar as ferramentas de forma progressiva. Carmem Rêgo reitera que essa é uma das principais preocupações no desenvolvimento da plataforma Mandacaru.

As tecnologias digitais e de mediação abrem uma possibilidade de usar recursos que professores e professoras não teriam normalmente na educação presencial, como vídeos, pesquisas virtuais, acesso a ilustrações, bibliotecas virtuais, entrevistas, falas de personagens entre outros. E no caso dos alunos, as pesquisas educacionais apontam o despertar para a curiosidade, o desenvolvimento de uma autonomia do aprender e outras competências práticas vinculadas ao saber tecnológico.

Desafios no uso da mediação tecnológica como recurso educacional
O desafio atual dos ambientes virtuais de aprendizagem é chegar de forma abrangente aos docentes. Segundo explica Eloiza de Oliveira, o sistema público não oferta de forma sistemática essa formação. “Até mesmo nas licenciaturas, nas universidades não há uma preparação mais ampla para que eles utilizem os recursos das tecnologias na sua prática docente”, comenta.

Outro desafio observado é a educação continuada que deveria contemplar a mediação tecnológica como recurso de ensino-aprendizagem no ensino público, além da falta de recursos econômicos no setor para garantir essa formação, bem como o acesso aos dispositivos tecnológicos e suas ferramentas.

Ferramentas tecnológicas mais acessíveis e equipamentos mais baratos também são desafios no Brasil. Uma realidade que é considerada e que justifica a criação de cursos gratuitos para a formação de professores e professoras, assim como ações que tentam garantir em alguma medida mais inclusão.

“Tudo isso ainda é muito caro, quando não deveria ser porque é um insumo de primeira necessidade, ainda que o uso dos celulares esteja mais acessível percebemos esse desafio imenso, visto que o Brasil é um país de dimensões continentais, onde ainda há dificuldade de acesso à internet”, diz Eloiza.

A capacitação é necessária para que docentes da educação básica compreendam que a mediação tecnológica como recurso de ensino demanda a mesma preocupação na preparação das aulas como é feita na modalidade presencial. “A tecnologia pela tecnologia não opera milagres”, recorda ainda Carmem Rêgo, lembrando que os cursos de formação tecnológica precisam chegar aos professores de forma facilitada e acessível, ao passo que eles estejam abertos aos caminhos possibilitados por esses recursos e uso de suas ferramentas.

“O que se apresenta agora é que a gente comece a se formar para o uso das tecnologias e de algumas ações a distância. Isso implica buscarmos essa formação porque ela não vem de forma natural, não é só uma transposição de técnicas, menos de forma emergencial”, reitera ainda Carmem, lembrando que a sensibilização dos professores para essa formação é também um desafio.

Como são os cursos?
Os cursos são abertos e gratuitos, qualquer profissional pode se inscrever. “No entanto os cursos foram planejados e produzidos com o objetivo de possibilitar uma formação de docentes para o uso das tecnologias na mediação pedagógica”, explica a secretária de Educação a Distância da SEDIS/UFRN, Carmem Rêgo.

Os cursos serão ofertados pela UFRN na plataforma AVAProex são no formato de MOOC, uma sigla em inglês que significa Curso On-line Aberto e Massivo e ofertam 1500 vagas cada um. Os temas são diversificados e destinados a colaborar com a qualificação de professores que estão distantes das salas de aula por conta da quarentena. A proposta pretende seguir após esse período.

Os participantes dos cinco cursos, que aliam educação e tecnologia, terão acesso a módulos com carga horária variando entre 15 e 30 horas. Os assuntos são considerados, pelos organizadores, como relevantes para a formação continuada dos professores e fundamentais para a compreensão de novos formatos de ensino e de aprendizagem.

Os módulos ofertados são: Educação mediada por tecnologias na prática; Introdução às metodologias ativas; Modalidades de ofertas educacionais com tecnologias; Atividades educacionais com mediação tecnológica e Docência e elaboração de materiais didáticos em cursos mediados por tecnologia.

O Ambiente Virtual de Aprendizagem da Pró-Reitoria de Extensão da UFRN, o AVAProex, foi desenvolvido pela equipe da Secretaria de Educação a Distância da UFRN e os cursos já estão disponíveis. Os interessados devem acessar a plataforma AVAProex.

Essa formação é uma parceria entre o Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, a Secretaria de Educação a Distância (SEDIS/UFRN) e a Pró-Reitoria de Extensão (PROEX/UFRN), financiados pelo Ministério da Saúde.