Valéria Credidio / Assessoria de comunicação LAIS/UFRN

Mais de 12 milhões de pessoas são infectadas anualmente com sífilis em todo o mundo. Os dados são da Organização Mundial de Saúde e apontam para uma pandemia silenciosa de uma das infecções sexualmente transmissíveis mais antigas da humanidade. Implementado desde 2017, o Projeto “Sífilis Não” vem atuando fortemente para transformar esse cenário. Entre as diversas ações está a elaboração de um teste com a potencialidade de realizar o diagnóstico com maior eficácia e com um custo menor, facilitando a utilização na rede básica de saúde e totalmente integrada com o ecossistema tecnológico do Ministério da Saúde.

O teste é resultado de mais uma pesquisa realizada pelo Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS/UFRN) em parceria com a Universidade Johns Hopkins, Baltimore, nos Estados Unidos, e a Universidade de Coimbra, em Portugal. Todo o trabalho de pesquisa foi validado, recentemente, por meio da publicação do artigo científico “Desenvolvimento de um método baseado em voltametria cíclica para a detecção de antígenos e anticorpos como uma nova estratégia para o diagnóstico de sífilis” (https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/36498280/), no International Journal of Environmental Research and Public Health, periódico internacional de relevância em pesquisas na área de saúde.

Por meio de uma metodologia inovadora, o novo teste para diagnóstico da sífilis poderá ser utilizado também para detecção de outras infecções sexualmente transmissíveis (IST), como o HIV. Outro aspecto importante diz respeito ao custo-benefício em relação aos métodos tradicionais, facilitando a sua utilização na atenção básica. De acordo com o professor Lúcio Gama, pesquisador da Universidade Johns Hopkins, os testes diagnósticos atuais para sífilis dependem de reagentes e máquinas que são caros e devem permanecer em um laboratório. “A vantagem desse novo método é a portabilidade e a possibilidade de ser usado para o diagnóstico de outras enfermidades”, afirmou, ressaltando que o método utilizado na elaboração do teste tem a capacidade de revolucionar os testes de detecção tanto de patógenos como anticorpos para várias doenças.

A publicação do artigo é a validação, pela comunidade científica, de todo o processo estudado e elaborado pelos pesquisadores que estão ampliando o recrutamento de novos pacientes para a testagem. “Os próximos passos são ajustes para avaliar a sensibilidade do teste e a elaboração do dossiê solicitando o registro desse novo dispositivo junto à Anvisa”, explicou o pesquisador do LAIS, Leonardo Lima. Além do registro na Anvisa, o teste também conta com o pedido de depósito de patente internacional.

Na opinião da Coordenadora-Geral de Vigilância das Infecções Sexualmente Transmissíveis, Angélica Espinosa, os resultados deste artigo são importantes, pois trazem boas perspectivas para o controle da sífilis e da sífilis congênita.  “O desenvolvimento de novas tecnologias para um diagnóstico acurado dos casos de sífilis é uma ferramenta importante para o controle da infecção porque possibilita o diagnóstico mais precoce e um manejo adequado dos casos. Ter um teste rápido de fácil realização e de baixo custo será um grande avanço para a política pública que trata da eliminação da transmissão vertical da sífilis em nosso país.”, argumentou.

Contribuições
Muito mais do que uma pesquisa científica, o novo teste para sífilis é um avanço em termos de políticas públicas para o Brasil. De acordo o diretor executivo do LAIS, professor Ricardo Valentim, essa nova metodologia de testagem é um marco importante na qualificação do diagnóstico desta infecção sexualmente transmissível, não só no Brasil, mas no mundo, uma vez que os métodos de triagem para sífilis ainda são insuficientes. “A falta de testes gera vários problemas para o rastreamento, para o cuidado, para a eliminação da transmissão vertical da sífilis, quando a mãe transmite a IST para o bebê durante a gestação ou na hora do parto”, explicou o diretor do LAIS.

Outra contribuição significativa, assinalada por Valentim, é a qualificação do diagnóstico, trazendo um resultado mais apurado. “Ao ser incorporado ao SUS, esse teste será disponibilizado prioritariamente na atenção primária à saúde, facilitando a integração da atenção primária com a vigilância em saúde, fator preponderante para eliminar a sífilis congênita no Brasil”.

Valentim ainda ressaltou outra contribuição importante relacionada à gestão dos casos. O novo teste permite uma interoperabilidade com o sistema de informação de saúde, existente no Ministério da Saúde e com a própria plataforma SALUS* também desenvolvida pelo LAIS.  Assim, o Ministério da Saúde, as secretarias estaduais e municipais de saúde poderão ter os resultados desses testes em tempo real. “Os dados estarão vinculados aos prontuários dos pacientes,  isso irá melhorar todo acompanhamento e a gestão dos casos dos pacientes. O teste permite aplicar o conceito de acompanhamento de segmento, ou seja, olhar para todo o tratamento, com a proposta de monitorar o tratamento, bem como a evolução do quadro clínico dos pacientes com relação à sífilis – isso representa um avanço enorme para o Brasil”.

Parceria
Para o desenvolvimento do teste, o LAIS contou com parcerias importantes. Uma delas foi a Universidade Johns Hopkins, instituição norte-americana com sua qualidade reconhecida internacionalmente.

Para o professor Lúcio Gama, que também é do National Institutes of Health, dos Estados Unidos, a parceria com o LAIS e os pesquisadores brasileiros é uma excelente oportunidade para novas descobertas. “Ciência é um processo colaborativo. É importante que haja troca de conhecimento entre culturas e países diferentes para que problemas sejam vistos com diferentes olhos. Eu fiquei muito impressionado com o LAIS quando visitei as instalações do laboratório. A sagacidade e criatividade brasileira são impressionantes. Aqui juntamos as qualidades dos brasileiros com a tradição científica de uma entidade tão antiga como a Johns Hopkins. E está aí o sucesso que estamos vendo”.

Outra parceria importante é com a Associação Brasileira da Indústria de Dispositivos Médicos (Abimo). Para o superintendente da Abimo, Paulo Fraccaro, é preciso reconhecer a importância do LAIS para o desenvolvimento da saúde brasileira, como uma referência internacional em tecnologia e inovação – inclusive com estudos e evidências publicados em periódicos de renome. Para Fraccaro, o laboratório presta um serviço de altíssima qualidade para a população. “O diferencial do LAIS não se limita à pesquisa científica. Realiza o estudo, mas dá sequência ao projeto até que ele possa, de fato, chegar ao mercado. Esse teste rápido para detecção da Sífilis é um excelente exemplo”, argumentou.

Para o superintendente da Abimo, todo brasileiro precisa ter orgulho de contar com um laboratório que se preocupa em desenvolver produtos e soluções de qualidade e bom custo-benefício para incorporação ao Sistema Único de Saúde (SUS), responsável pelo atendimento exclusivo de 75% do nosso povo.

Fraccaro ainda destacou que o LAIS é uma vitrine do alto nível de conhecimento e competência da classe científica. “Como representantes da indústria nacional de dispositivos médicos, seguimos parceiros do LAIS para aproximar as equipes científicas do laboratório aos times de P&D das fabricantes brasileiras. Com isso, temos certeza de que conseguiremos revolucionar ainda mais o cenário de inovação em saúde no Brasil com muitos novos projetos capazes de auxiliar na entrega de uma assistência segura e de qualidade para todos”, finalizou.

Como citar
Barros GMC, Carvalho DDA, Cruz AS, Morais EKL, Sales-Moioli AIL, Pinto TKB, Almeida MCD, Sanchez-Gendriz I, Fernandes F, Barbalho IMP, Santos JPQ, Henriques JMO, Teixeira CAD, Gil P, Gama L, Miranda AE, Coutinho KD, Galvão-Lima LJ, Valentim RAM. Development of a Cyclic Voltammetry-Based Method for the Detection of Antigens and Antibodies as a Novel Strategy for Syphilis Diagnosis. Int J Environ Res Public Health. 2022 Dec 3;19(23):16206. doi: 10.3390/ijerph192316206. PMID: 36498280; PMCID: PMC9738993.

*Salus – Sistema de Monitoramento de Vigilância Epidemiológica, implementado em municípios do RN, MS, SP, RJ, BA e PE.