Por Gabriel Mascena – ASCOM/LAIS

O Mato Grosso do Sul registrou, em 2021, mais de 1.300 casos de sífilis em gestantes e 194 casos de sífilis congênita, que é a infecção transmitida da mãe para o bebê. Os dados são do Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde (MS/SVS/DCCI). Em parceria com o Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS/UFRN), foi realizado, no município de Campo Grande, o Seminário Estadual “Traçando estratégias para eliminação da Transmissão Vertical da Sífilis com vista a 2023”. O evento, realizado entre os dias 10 e 11, teve como principal objetivo fomentar debates sobre a situação da sífilis no Brasil e, em particular, nos municípios sul-mato-grossenses.

Os painéis, realizados no primeiro dia do evento, contaram com representantes do Ministério da Saúde, da SES/MS e do LAIS, além de instituições locais, como o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS). Os participantes trouxeram questões sobre a atual problemática na situação da atenção primária, da vigilância e da inconsistência na gestão dos casos de sífilis no sistema público de saúde. Foram discutidos temas como a falha nos sistemas de administração dos casos de sífilis, a importância de dados qualificados no tratamento, além das dificuldades vividas pelos profissionais de saúde com o agravo da infecção no estado.

Segundo Ricardo Valentim, diretor executivo do LAIS, o principal problema na situação da sífilis está relacionado ao protocolo de notificação dos casos. “O que os dados estão mostrando é que há uma distorção entre as notificações e o que está acontecendo na prática, o que é natural dos processos, mas precisa ser melhorado urgentemente. Através de comitês de especialistas, devemos fazer uma revisão criteriosa, para que em breve o Brasil esteja com a agenda de eliminação da transmissão vertical, conforme a orientação da OMS, cumprida”, destacou o diretor. Para Alessandra Salvatori, gerente técnica de IST/HIV/AIDS da SES/MS e integrante da equipe organizadora do evento, o seminário foi uma grande oportunidade para tratar o agravo da sífilis no estado. “Essas discussões envolvendo os três níveis de gestão é de total importância para que possamos fortalecer as ações, protocolos e também conseguir construir os próximos passos para vencermos as dificuldades que enfrentamos com relação à sífilis, principalmente a sífilis congênita”, explicou ela. 

Oficina por Região de Saúde expõe cenário em cada município
Divididos em equipes representadas pelas macrorregiões do estado, os profissionais de saúde envolvidos no seminário tiveram a oportunidade de participar de uma oficina que permitiu a exposição de fragilidades e potencialidades observadas em cada município no manejo, acompanhamento e tratamento do agravo de infecções sexualmente transmissíveis (IST) e principalmente da sífilis. 

A apresentação dos dados apontados por cada grupo foi realizada na plenária final do segundo dia de evento, onde, por decisão unânime, foi aprovado um documento contendo futuras ações para solucionar as problemáticas nos municípios. Carlos Alberto de Oliveira, pesquisador do LAIS e coordenador da plenária, destacou o papel dos gestores envolvidos no seminário. “A maior parte dos profissionais trabalha na ponta ou gerencia a questão das ISTs nos municípios, então eles têm uma vivência da realidade, eles sabem como a coisa acontece”, explicou. O pesquisador ainda enfatizou a importância da participação do Laboratório na promoção do evento. “O LAIS trouxe as pessoas para apresentarem seus conhecimentos, evidências científicas sobre essa questão e criar um consenso, como conseguimos fazer hoje. Estamos em novos tempos, e precisamos ter a coragem de apresentar o que achamos que precisa de mudança para melhorar e avançar no sentido de acabar com a sífilis congênita, garantir para cada criança exposta o tratamento correto e também melhorar a qualidade dos profissionais que fazem esse atendimento”, finalizou. 

Sobre a sífilis
A sífilis é uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST) causada pela bactéria Treponema pallidum. Ela tem cura, mas se não for diagnosticada e tratada com antecedência, pode acarretar em sérias complicações. Essa IST pode apresentar várias manifestações clínicas em diferentes estágios, divididos em: primário, secundário, terciário e latente. Nos estágios primário e secundário da infecção, a possibilidade de transmissão é maior. A sífilis pode ser transmitida pela relação sexual sem camisinha com uma pessoa infectada (sexo desprotegido), ou diretamente para a criança durante a gestação ou parto. Há três classificações possíveis para notificar os casos de sífilis: adquirida, presente em homens e mulheres; em gestante; e congênita, quando o bebê nasce com sífilis.