Mais de 97% dos casos notificados de sífilis congênita no Rio Grande do Norte apresentam algum tipo de inconsistência ou inadequação, o que representa uma super notificação da infecção que é transmitida para o bebê, pela mãe, durante a gestação. Os dados são do relatório “INCONSISTÊNCIAS NAS NOTIFICAÇÕES DE SÍFILIS CONGÊNITA: UMA ANÁLISE BASEADA NO SINAN, CONFIRMADA POR ACHADOS CLÍNICOS, LABORATORIAIS E EPIDEMIOLÓGICOS”, produzidos por pesquisadores do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS/UFRN). Os dados analisados são resultantes de pesquisas do Projeto “Sífilis Não”, realizado pelo LAIS em parceria com o Ministério da Saúde e a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS).
O documento ainda apresenta dados mais graves: todas as crianças que participaram desse estudo e que foram notificadas com sífilis congênita em Natal/RN apresentaram resultado negativo (não reagente). Os dados analisados forma coletados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde (MS), consideraram o período de 2015 a 2020. “Todavia, o que mais se destaca é que somente 3,3% destas crianças, de fato tinham um título maior que o materno em pelo menos duas diluições (fatores que apontam sinais da sífilis congênita)”, explicou o diretor executivo do LAIS, professor Ricardo Valentim, um dos autores do relatório.

Com base nos registros de 1.074 crianças notificadas no SINAN, destas, 978 crianças tratadas nas maternidades de Natal/RN, foi realizada uma busca ativa com o objetivo de aprofundar os exames laboratoriais para confirmação do diagnóstico de sífilis congênita. Esse processo ocorreu de forma coordenada com o Núcleo de Agravos Notificáveis (NAN) do município de Natal para a realização de exames sorológicos e moleculares complementares ao diagnóstico de sífilis congênita. Até o momento da elaboração do relatório foram incluídas 34 crianças, 34 mães e 11 pais no presente estudo, totalizando 79 amostras de sangue coletadas no período de setembro de 2021 a fevereiro de 2022.

As coletas foram realizadas nas Unidades Básicas de Saúde situadas em Natal-RN, onde foram notificadas 386 crianças com sífilis congênita entre 2018 e o primeiro semestre de 2021. Entre os testes refeitos, todos apontaram resultado negativo para sífilis.

Essa situação não ocorre somente no Rio Grande do Norte. De acordo com o levantamento, o cenário se repete em todo o Brasil. Conforme a base de dados do SINAN, no período de 2015 a 2020, 28,70% dos casos notificados com sífilis congênita foram de dados que apresentaram alguma inadequação. Isso significa que 39.895 dos 139.015 registros do período são inadequados para notificar os recém-nascidos com sífilis congênita.

As consequências da super notificação pode gerar danos à saúde pública, seja promovendo iniquidades no acesso aos serviços de saúde ou pela aplicação ineficiente dos recursos da saúde pública (força de trabalho, serviços assistenciais, infraestrutura e orçamento) “Apontar inconformidades pode provocar mudanças relacionadas às notificações dos casos de sífilis congênita, de modo a tornar o processo mais transparente e eficiente”, argumento o diretor do LAIS.

O documento traz detalhes sobre a investigação realizada pelos pesquisadores, com destaque para a importância da avaliação clínica da audição e do desenvolvimento infantil. Ao final do relatório, há indicações de mudanças de conduta necessárias para a transformação do quadro atual. Para acessar o relatório, acesse AQUI.