Por Dênia Cruz

A ciência sempre moveu o mundo. Em toda a história da humanidade, ela sempre esteve protagonizando as mais importantes e inovadoras descobertas, como a estrutura do DNA ( descoberto pelos cientistas James Watson e Francis Crick), que ajudou a elucidar os mecanismos de herança genética;  a teoria da relatividade (por Albert Einstein), que revolucionou a física e mostra que espaço, tempo, massa e gravidade estão relacionadas entre si; a “Origem das Espécies” defendida pelo naturalista Charles Darwin, que propôs uma explicação ao processo de evolução dos seres vivos, são alguns exemplos da importância da ciência para a vida.

E pleno século 21, necessitamos como nunca da atuação da ciência para solução da pandemia do novo coronavírus, pois vivemos uma crise sanitária, social e econômica no mundo devido a propagação da doença.  Nessa guerra com inimigo invisível, temos no fronte de batalha soldados vestidos de jalecos, com máscaras e luvas, usando as armas do conhecimento construído por meio da ciência.

Aqui no Brasil também sofreremos – na verdade, estamos sofrendo – as consequências da pandemia, e para enfrentar estamos usando todo o corpo de pesquisadores possível no auxílio das pesquisas mundiais. A exemplo da dedicação dos nossos cientistas e instituições de pesquisa e ensino, o genoma do vírus foi sequenciado em tempo recorde – 48 horas – enquanto outros países levaram 15 dias para chegar ao mesmo resultado. Isso demonstra a valiosa contribuição que o desenvolvimento da ciência pode trazer.

Temos inúmeras atividades nas universidades brasileiras em andamento,  desenvolvendo tecnologias fundamentais, como um ventilador pulmonar para emergências, barato e rápido de produzir, confecção de máscaras em impressoras 3D, fabricação de álcool em gel à custo mínimo, sem falar nas pesquisas em busca de uma vacina.

Na UFRN, temos os pesquisadores do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS) que fazem parte desse time de soldados da ciência, com pesquisas que estão fazendo a diferença no enfrentamento à Covid-19 no Rio Grande do Norte, dando suporte a Secretaria de Saúde do estado.

O LAIS em pauta com a ciência
Os pesquisadores, colaboradores e parceiros do LAIS estão em consonância com ciência a todo momento, e na pandemia do coronavírus não poderia ser diferente. A missão principal do laboratório é produzir conhecimento, inovação e tecnologia em saúde para a sociedade.

Para o professor Ricardo Valentim, coordenador do LAIS, o papel da ciência no enfrentamento à Covid-19 tem sido fundamental, auxiliando os gestores governamentais na condução das medidas de contenção da contaminação. “A a ciência tem mostrado que a sociedade necessita de pesquisas para desenvolver medicamentos adequados. Esta mesma ciência tem mostrado que o uso de máscara vai ajudar a mitigar a contaminação. A ciência tem mostrado que o isolamento social é essencial. Aqui no RN estamos em vantagem com relação a outros estados do Nordeste, porque a ciência nos orientou, e conseguimos conter o avanço da contaminação. Mas o grande desafio da ciência é atuar de maneira transdisciplinar associando os setores da saúde, das engenharias, das ciências sociais, das ciências econômicas e das ciências políticas. Aliando com pontos de intercessão podemos passar pelo problema da pandemia, enfrentando essas crises nas várias dimensões, econômica, social, política e de saúde, de maneira a ter menos efeitos colaterais”, disse. Ele prossegue:

“A ciência pensa e orienta a sociedade tanto no momento de crise, e como no pós-crise. Por isso os protocolos de atendimento à saúde e as tecnologias para prevenção e atenção à saúde vão se modificar, olhando para o presente e pensando no futuro”, afirmou, complementando que o mundo irá se reinventar e que as economias terão que se reinventar também.

Mulheres na ciência
Feminina como a palavra ciência, as mulheres cientistas trazem contribuições singulares na produção do conhecimento. Assim como nossas pesquisadores do LAIS, que estão desenvolvendo trabalhos importantes para o enfrentamento da Covid-19, a exemplo da professora Lyane Ramalho, da equipe de coordenação do sistema OrientaCoronaRN, que contribui com a Secretaria Estadual de Saúde do RN (Sesap/RN) na orientação humanizada da população sobre o autocuidado no combate a doença, evitando que o indivíduo  se desloque desnecessariamente as unidades de saúde, bem como estimulando o isolamento social. “Temos compromisso com o SUS em seguir um dos maiores princípios do sistema que é prover saúde com equidade.  Nossos projetos procuram desenvolver tecnologia que auxilie na qualificação dos serviços, de forma que o acesso à saúde da população possa ser incrementado. Temos pesquisas também são capazes de criar sistemas que levam modernidade e transparência para a gestão dos sistemas de saúde, como o sistema de regulação RegulaRN, criado pelo LAIS, e que é um gerenciador de leitos, procedimentos e exames para rede pública e privada do RN, nesse momento com ênfase apenas na Covid-19, mas possível de ser replicável para todo o Brasil. Uma contribuição essencial nesse momento de pandemia, onde dados atualizados em tempo real pode significar salvar vida”, contou ela. É a ciência na condução das ações.

Valorização
Mas infelizmente a ciência não é valorizada como deveria. Para se produzir ciência é necessário investimento, e o que constatamos no país é uma diminuição significativa nos últimos anos. Agora no momento de pandemia fica evidente o papel da ciência para a manutenção da sociedade. “Não é de hoje que a ciência é atacada. Com pesquisas e investimento, a ciência consegue dar respostas rápidas, tudo é uma questão de investimentos, de tempo, estudo e recursos. Por exemplo, estamos numa pandemia, com recursos na ciência temos como produzir vacinas, tratamentos, medicamentos, tudo para combater o vírus.  Porque se não investe perdemos inclusive nossos pesquisadores. Quando não há o investimento, ocorre a chamada ‘fuga de cérebros’ para fora do Brasil, o que impacta na produção do conhecimento em ciência no país. Mas temos bons exemplos como o LAIS, que produz ciência transdisciplinar, e agora está dando soluções tecnológicas, como o ecossistema que está auxiliando o governo estadual no combate à doença. A ciência precisa de investimento para seguir produzindo”, argumentou o pesquisador Leonardo Lima, que é biomédico e doutor em Imunologia.

O epidemiologista Ion Andrade destacou a importância da ciência no RN, auxiliando o Executivo estadual e a sociedade no combate ao coronavírus. “O LAIS  tem uma participação ativa e fundamental nesse momento de pandemia, produzindo ciência por meio das atividades e projetos que estão auxiliando o governo na gestão da crise sanitária, em ações como a  elaboração de dados, regulação de leitos, no auxilio a elaboração de políticas públicas em enfrentamento à Covid-19. É o trabalho de muita gente com o alinhamento de várias áreas. Há também a comunicação, que está projetando a o trabalho da UFRN junto com a SESAP a nível nacional, mostrando que a ciência está contribuindo para diminuir da gravidade epidemiológica da pandemia no estado. Temos a curva mais atenuada graças as tomadas de decisões a partir das orientações com base nos dados científicos”, colocou o pesquisador.

Comunicação tem papel primordial para o enfrentamento da Covid-19
A ciência também se faz pela comunicação. É através da divulgação clara dos dados científicos que se evita distorções, sobretudo em um mundo cercado de fake news. A pesquisadora e professora do Departamento de comunicação da UFRN, Lilian Muneiro, destaca a necessidade da informação de qualidade.

“A pandemia da Covid-19 trouxe foco à importância da ciência e a urgência em mais pesquisas científicas.  Por outro lado, a mídia mostra cientistas de várias áreas do conhecimento empenhados em entender as mutações genéticas do coronavírus, no desenvolvimento de vacinas e fármacos para combater a doença. E com isso muitas informações chegam, diferente de outros momentos da história, que tivemos pandemias e não tínhamos acesso à informação, gerando rumores. O nosso contexto hoje é diferente, vivemos uma tragédia, sem dúvida, também pelo excesso de informações, notícias falsas, pela infodemia. Tratam-se de conteúdos propagados por pessoas que não acreditam na ciência, notícias falsas a respeito de tudo o que envolve a Covid-19, desde sua origem, transmissão, sintomas, tratamento e cura.  O trabalho científico também em comunicação e saúde deve continuar, pois precisamos atuar nos processos midiáticos, nos diversos meios, avaliando informações, elaborando e apresentando materiais que podem dar sustentação ao fazer dos jornalistas, informando a sociedade de maneira clara”, explicou a pesquisadora.