Por Valéria Credidio – Ascom LAIS
Mais de 20 milhões de pessoas, no Brasil, sofrem com osteoporose, uma doença que se caracteriza pela perda progressiva de massa óssea, tornando os ossos enfraquecidos e predispostos a fraturas. Os pacientes, em sua maioria, são mulheres, acima dos 50 anos. O diagnóstico precoce pode evitar a aceleração dessa perda óssea que podem evoluir para fraturas e até a morte do paciente. O diagnóstico pode ser feito por meio de um exame de densitometria óssea que, por ter o custo elevado, não está disponível a todos os pacientes que precisam.
Em Messias Targino, município de pouco mais de quatro mil habitantes, no interior do Rio Grande do Norte, conta com uma alterativa para o diagnóstico de seus moradores, que procuram a Unidade Básica de Saúde. Por meio de um aparelho pequeno, com nova tecnologia e recebendo do resultado na hora, os médicos locais podem diagnosticar qualquer alteração óssea e fazer os encaminhamentos necessários. Essa agilidade se deve ao projeto Osseus.
O Osseus é resultado da pesquisa aplicada realizada na tese de doutorado do pesquisador do LAIS Agnaldo Souza Cruz, do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS/UFRN). Com nova tecnologia, mais simples, rápida, barata e essencial para se rastrear a população de risco para osteoporose, o projeto permite a triagem inicial e seleção dos pacientes que precisam de uma avaliação adicional com a densitometria. Todo o diagnóstico pode ser feito por meio de um aparelho pequeno e de fácil transporte, que, ao invés de emitir radiação, utiliza microondas eletromagnética.
Alguns dos resultados obtidos pelo projeto já são de conhecimento da comunidade científica, por meio da publicação do artigo A method based on nonionizing microwave radiation for ancillary diagnosis of osteoporosis: a pilot study, publicado na BioMedical Engineering OnLine. “O estudo piloto recentemente publicado validou o aparelho, mostrando que o mesmo consegue diferenciar estruturas ósseas com densidades diferentes, caracterizando sua microarquitetura”, explicou o médico pesquisador e um dos autores do artigo, Josivan Gomes de Lima.
Com um dispositivo portátil de fácil operação e de baixo custo, o equipamento proporciona escalabilidade e potencializa seu uso em qualquer lugar do Brasil. O exame realizado não é invasivo e pode ser aplicado em intervalos de tempo menores, pois não há nenhum efeito colateral para os pacientes, diferente de outros métodos tradicionais. O Osseus foi validado pelos pesquisadores do LAIS em parceria com pesquisadores do MIT, Massachusetts Institute of Technology, na cidade de Cambridge – MA/EUA.
A tecnologia utilizada é simples. O aparelho foi desenvolvido com um arranjo de antenas, técnicas de extração de características do paciente e reconhecimento de padrões com uso de inteligência artificial para realizar a triagem de pacientes com osteoporose. “Com mais dispositivos disponíveis para medir a densidade mineral óssea, será possível diagnosticar precocemente a osteoporose, reduzir custos com hospitalização, exames, cirurgias e próteses” explicou a pesquisadora do Núcleo Avançado de Inovação Tecnológica (NAVI/IFRN), Gabriela Albuquerque.
Equidade social
Muito mais do que proporcionar avanços no diagnóstico da osteoporose e facilitar a prevenção de problemas mais graves, o projeto Osseus tem uma importância grande na condução de políticas públicas, com a incorporação da tecnologia na atenção primária. De acordo com Agnaldo Cruz, por ser de fácil manuseio, o equipamento tem potencial para ser implantado em todos os municípios brasileiros, sem dificuldades tecnológicas. “Em razão do seu fácil manuseio, ele pode estar presente em qualquer unibade básica de saúde, possibilitando a redução de fraturas e custos com o seu tratamento. O Osseus tem como maior objetivo promover qualidade de vida a população brasileira, frente a esta doença silenciosa”, argumentou.
Para Ricardo Valentim, diretor executivo do LAIS, o Osseus vai qualificar o diagnóstico, com relação a densitometria óssea, identificar problemas precocemente e aumentar o acesso aos serviços de saúde, ampliando e qualificando o processo regulatório. “Só irão para a alta complexidade aqueles pacientes que realmente precisam, diminuindo as filas de espera pelos exames. Melhora o diagnóstico na atenção primária e, principalmente, a equidade no atendimento do serviço de saúde”, finalizou.