Valéria Credidio – Assessoria de Comunicação do LAIS/UFRN

Em todo o mundo, estima-se que a sífilis ocorra em um milhão de gestações a cada ano, causando mais de 350 mil resultados adversos na gravidez. Um deles é a perda auditiva para a criança. Para conhecer mais sobre um grupo de pesquisadoras em Fonoaudiologia, realizaram um levantamento de dados, entre crianças nascidas entre os anos de 2019 e 2021, no Rio Grande do Norte.

Os resultados foram publicados no periódico Frontiers Public in Health, uma das principais publicações internacionais na área da saúde. Com o título “Prevalência de risco para deficiência auditiva em recém-nascidos com sífilis congênita em um programa de triagem auditiva neonatal (TAN)”, o trabalho foi produzido por um grupo de pesquisadores do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS/UFRN).

De acordo com Thalita Oliveira, uma das autoras da pesquisa, o estudo não só teve o foco na sífilis congênita, mas também observou o impacto na triagem auditiva na presença de outros indicadores de risco para a deficiência auditiva ao nascimento, visto que a população estudada vem de um programa de triagem auditiva neonatal universal. “Podemos observar com o estudo que a presença da sífilis congênita, apesar de ser o indicador de maior ocorrência na amostra, isoladamente não foi fator decisivo para falha na triagem auditiva ao nascimento, mas sim a presença de mais de um indicador em conjunto”, esclareceu.

Um dos achados importantes da pesquisa diz respeito ao aumento da testagem e tratamento da sífilis nas gestantes, o que vem reduzindo os casos de sífilis congênita e as perdas auditivas nos bebês. “A sífilis congênita não é, no momento atual, um indicador de maior impacto ou risco para falha na triagem auditiva, podendo estar relacionada ao avanço do tratamento da sífilis após o diagnóstico da mãe e/ou bebê”, argumento a pesquisadora.

Apesar dos dados aparentemente positivos, há uma grande preocupação entre os pesquisadores que é a falta da realização da triagem auditiva neonatal em todos os bebês, especialmente, naqueles que apresentam algum indicador de risco, como no caso da mãe ter testado positivo para sífilis durante a gestação. Segundo orientações do Ministério da Saúde, para esses casos, mesmo com o resultado de passa na triagem auditiva neonatal é necessário que a criança retorne para a atenção especializada entre sete e 12 meses de vida.

“E importante sabermos quais são os indicadores de risco e se de fato esses indicadores de risco têm um desfecho de falha na triagem auditiva neonatal. Isso dá informações para focalizar naqueles que tem maior probabilidade de terem perda de audição, quando o Programa não puder ser universal, isto é, a todos bebês como preconizado internacionalmente. Todos com falha devem ser encaminhados automaticamente para o centro especializado ainda, dentro desse primeiro mês de vida, para fazer um diagnóstico audiológico completo e, se confirmada a deficiência auditiva, já entrar em processo de intervenção auditiva. Esta identificação e diagnóstico logo nos primeiros meses são determinantes para o sucesso da intervenção deste bebê trazendo benefícios importantes ao seu desenvolvimento”, acrescentou a pesquisadora Sheila Balen, também autora do artigo.

Diante da publicação, os autores tem a perspectiva que o trabalho possa orientar novas pesquisas e induzir políticas públicas direcionadas aos indicadores de risco para a deficiência auditiva, focando na promoção, prevenção e tratamento, bem como do seguimento da população afetada dentro das políticas públicas de saúde auditiva no país.

Como citar
Oliveira Thalita da Silva, Dutra Monique Ramos Paschoal, Nunes-Araujo Aryelly Dayane da Silva, Silva Aline Roberta Xavier da, Oliveira Gabriel Barros Lins Lelis de, Silva Gleyson José Pinheiro Caldeira, Valentim Ricardo Alexsander de Medeiros, Balen Sheila Andreoli. The prevalence of risk for hearing impairment in newborns with congenital syphilis in a newborn hearing screening program (NHS). Frontiers in Public Health. Vol 11. 2023.

Para acessar:
https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fpubh.2023.1214762