Por Valéria Credidio – Assessoria de Comunicação do LAIS/UFRN

Mais de três milhões e 500 mil inscrições já foram feitas para as formações em saúde oferecidas pelo Ambiente Virtual de Aprendizagem do Sistema Único de Saúde. Para a produção do material disponível no  AVASUS, como é mais conhecida a plataforma digital, há o envolvimento de uma equipe multidisciplinar que leva em consideração não apenas os conteúdos necessários para o desenvolvimento do trabalho, mas também aspectos culturais como  costumes, crenças e religiões, históricos, sociais, políticos e econômicos do território em que o profissional de saúde atua. 

Essa interculturalidade existente no AVASUS foi comprovada em artigo, recentemente publicado no European Journal of Investigation in Health, Psychology and Education,  periódico científico internacional, revisado por pares, que publica artigos originais e revisões sistemáticas ou meta-análises relacionadas à pesquisa sobre desenvolvimento humano ao longo do ciclo de vida. O artigo Interculturality in the Development of Technology-Mediated Courses for Massive Health Education: A Systematic Review, é de autoria de um grupo de pesquisadores do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS/UFRN) e faz parte do trabalho de doutorado da pesquisadora Priscila Cunha, no doutoramento de Relações Interculturais, da Universidade Aberta de Portugal (Uab), sob a orientação das professoras Karilany Coutinho  e Aline Pinho, ambas da UFRN, e Fátima Pereira, da Uab. 

O artigo faz uma análise dos Massive Open Online Courses (MOOCS), que são uma estratégia educacional utilizada em muitos campos do conhecimento, inclusive na saúde. “Ao educar profissionais de saúde sobre uma variedade de práticas, os MOOCs desempenham um papel crucial na interculturalidade, permitindo que os profissionais abordem a diversidade cultural em ambientes de trabalho”, ressalta Priscila Cunha em seu trabalho. Como exemplo, a autora reforça aspectos positivos da  implementação de práticas culturais de segurança e antirracistas, com a promoção da equidade no atendimento médico, direcionadas para a redução de  disparidades, auxiliando  na comunicação entre profissionais de saúde e pacientes de diferentes origens culturais para criar um ambiente de assistência à saúde mais inclusivo e equitativo.

Em consonância com as perspectivas da diversidade cultural e da interculturalidade, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) vem trabalhando no sentido de reconhecer a igualdade e a definição da diversidade intercultural para adotar novas políticas sociais e humanas. De acordo com os levantamentos feitos durante a produção do artigo, a  interculturalidade não visa separar o universal do particular, mas sim reunir e organizar um contexto social e relacional integrador. “É necessário considerar esse pluralismo para promover o diálogo entre diferentes tipos de conhecimento, uma vez que o objetivo comum entre eles é buscar o equilíbrio ou a saúde por meio do cuidado”, reforçam os pesquisadores.

A interculturalidade em saúde é o conjunto de ações e políticas que buscam reconhecer e incorporar a cultura do usuário no processo de assistência à saúde. A relevância cultural de tal processo ultrapassa a dimensão exclusivamente étnica, pois implica valorizar a diversidade biológica, cultural e social como elementos essenciais em todos os processos de saúde e doença. Isso se deve à forte influência dos aspectos culturais, históricos, sociais, políticos, religiosos e econômicos na assistência à saúde. Portanto, a abordagem intercultural compreende uma forma inovadora de considerar os aspectos que impactam o bem-estar individual.

“No que se refere à educação de profissionais de saúde, os elementos de interculturalidade são relevantes para a promoção de ambientes de aprendizagem com interações enriquecedoras entre profissionais de diferentes origens culturais.  “Isso pode ajudar a formar profissionais de saúde que ofereçam cuidados mais empáticos e eficazes, respeitando a singularidade do contexto cultural de cada indivíduo”, argumenta Priscila Cunha.

Produção intercultural
Para a produção de todo o material que compoem o AVASUS, o LAIS conta com uma equipe multidisciplinar para o desenvolvimento dos MOOCS, contando com a participação de profissionais de áreas como educação, comunicação, design, saúde, tecnologia da informação, engenharia, acessibilidade e linguística. Além da equipe há uma série de etapas importantes, como  como planejamento do curso, treinamento dos criadores de conteúdo, desenvolvimento do conteúdo, revisão técnica e científica, revisão pedagógica, design instrucional, com as definições de como o conteúdo será apresentado aos participantes do curso, padronização do estilo da linguagem, formatação dos recursos educacionais, integração ao ambiente virtual de aprendizagem, validação do conteúdo para garantir sua qualidade e o lançamento final. Todas essas etapas envolvem equipes de diferentes áreas, como educação, comunicação, design, saúde, tecnologia da informação, engenharia, acessibilidade e linguística.

De acordo com Karilany Coutinho, esse é um dos primeiros artigos que o LAIS  produz nessa temática “Interculturalidade”, apesar de trabalharmos constantemente com o assunto, inclusive em nosso dia a dia, por exemplo, nos cursos que disponibilizamos no AVASUS, no ambiente de trabalho, nas cooperações técnico-científica que realizamos. “No estudo, foram observados vários aspectos como diversidade, diálogo intercultural, empatia, inclusão, igualdade, adaptabilidade cultural, valorização da diversidade, aprendizagem intercultural. Este artigo é extremamente importante para dar continuidade a pesquisa científica que estamos desenvolvendo”, afirma. 

A pesquisa pode contribuir significativamente para a formulação de novos materiais de formação, ao oferecer diretrizes claras sobre como incorporar a interculturalidade e adaptar os conteúdos às necessidades diversas de um público cada vez mais globalizado.  “A análise da produção dos MOOCs e a inclusão de valores como empatia, respeito à diversidade e adaptabilidade cultural são essenciais para o desenvolvimento de materiais que tem como proposta capacitar tecnicamente os profissionais, como também os preparam para práticas que considerem as diferentes culturas e contextos sociais em que irão atuar. O estudo também reforça a importância da colaboração contínua e da inovação para garantir a eficácia e a relevância dos materiais educacionais”, finaliza Priscila Cunha. 

O que é o AVASUS
O ambiente virtual de aprendizagem do Sistema Único de Saúde (AVASUS) é fruto de uma parceria entre o Ministério da Saúde e o Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS/UFRN), consolidando-se como a terceira maior plataforma de formação humana em saúde do mundo. Atualmente o AVASUS conta com mais de três milhões e meio de inscritos para as suas trilhas formativas. Acesse avasus.ufrn.br e conheça mais sobre a plataforma. 

Link para acesso: https://www.mdpi.com/2254-9625/14/10/181

Como citar

Cunha, PSD; Barbalho, IM; Fernandes, FRdS; Romão, MH; Rodrigues da Silva Valentim, JL; Dantas Coutinho, KM; Sampaio de Araújo, K.; de Medeiros Valentim, RA; de Pinho Dias, A.; Araújo do Nascimento Batista, N.; e outros. Interculturalidade no Desenvolvimento de Cursos Mediados por Tecnologia para Educação Massiva em Saúde: Uma Revisão Sistemática. EUR. J. Investigue. Psicóloga da Saúde. Educ. 2024 , 14 , 2754-2771. https://doi.org/10.3390/ejihpe14100181