Lidar com doenças históricas, que há séculos circulam entre a humanidade, em um cenário onde um novo agravo surge e gera a preocupação sobre como os serviços de saúde deverão atuar. Foi discutindo estes desafios que aconteceu nesta sexta-feira (4) a live “Desafios contemporâneos da saúde global: tuberculose, sífilis e momento atual da Covid-19”. O encontro teve a participação da professora Raquel Duarte, da Universidade do Porto e ex-secretária de Saúde de Portugal, e dos pesquisadores do LAIS, Ricardo Valentim, Leonardo Lima. Foi consenso entre os especialistas que, para enfrentamento efetivo de doenças infecciosas, é preciso que organismos de saúde as tratem como um problema global.
A mediação do debate foi do professor e pesquisador do LAIS, Carlos Alberto Oliveira. Os participantes da transmissão ao vivo destacaram que tanto a sífilis quanto a tuberculose configuram-se como um problema de saúde global, da mesma maneira que a covid-19 é tratada atualmente. Diretor executivo do LAIS, o professor Ricardo Valentim destacou a importância do projeto “Sífilis Não”, que desde sua implementação, tem dado esta abordagem ao enfrentamento da doença no Brasil. “A sífilis deixou de ser uma doença negligenciada quando o Brasil reconhece a epidemia, em 2016. Em 2017, com o projeto Sífilis Não, nós iniciamos toda uma trajetória de enfrentamento à sífilis no Brasil”, afirmou ele.
Sobre a pandemia da covid-19, ele destacou a desinformação como um problema sério no contexto do combate à doença. “Os estudos mostram principalmente uma questão relacionada à desinformação da sociedade”, disse. A questão também foi salientada pelo pesquisador Leonardo Lima. “Se teve uma coisa que a gente aprendeu com a pandemia, foi a necessidade da integração da informação. Essa troca de informação foi algo que a gente teve que aprimorar muito rapidamente e eu acredito que vai ser um legado que levaremos para o enfrentamento de próximas doenças e próximos desafios”, destacou o imunologista.
Para Raquel Duarte, a tuberculose ainda é um problema de saúde pública atual. “Enquanto houver a nível mundial uma doença infecciosa como a tuberculose, ela continuará a chegar até as pessoas. Então temos que pensar nas doenças de forma global, sem pensar em um país de cada vez. Os países que tentam atualmente eliminar a doença se apegam a determinantes sociais e econômicos. Se não trabalharmos a doença na sua globalidade, estamos a caminhar para a perpetuação da doença, mesmo com todas as ferramentas ao nosso dispor”, afirmou.
Os desafios de Portugal e Brasil no contexto de doenças infectocontagiosas
O debate tratou ainda sobre as medidas adotadas para a contenção da covid-19 nos territórios. Valentim enfatizou que os resultados obtidos por Portugal no enfrentamento da pandemia, com a adoção de medidas restritivas e a ampla adesão da população à vacinação, foram primordiais para o cenário atual no país europeu, que de certa forma teve reflexo também no Brasil. “É muito singular o que acontece em Portugal, mas a gente vê reflexo do que acontece lá aqui também. As medidas foram feitas de medida circunstancial e a gente foi aprendendo a resolver esses problemas da pandemia. Hoje, nós estamos num estado de transição, talvez, de um estado de pandemia para uma endemia. O que nós observamos é que no Brasil foi muito politizado. Aqui foi politizada a vacina, os medicamentos, as medidas restritivas. Mas efetivamente a ciência teve um papel preponderante”, argumentou.
Para a ex-secretária de Saúde de Portugal, o momento demanda que se pense no futuro pós-pandemia, porém, com um olhar voltado para a saúde global. “Temos que continuar a pensar nas doenças numa forma global, não podemos olhar apenas para um país de cada vez. Agora, é o momento de avançarmos e olharmos para o futuro”.
Leonardo Lima enfatizou que embora novas variantes da covid-19 possam surgir nos próximos meses, é preciso aprender com as informações que se tem hoje sobre a doença e combate de epidemias. “É preciso que a gente olhe pra frente. A gente sabe muita coisa do vírus, temos boas vacinas e é preciso, como doutora Raquel bem salientou, planejar o futuro. É preciso que a gente pegue esses dados, aprenda com essa informação pra que a gente planeje com calma e segurança a retomada das atividades econômicas, escolares, para que tenhamos uma sociedade robusta para enfrentar os próximos desafios”, finalizou ele.