Por Valéria Credidio – Assessoria de Comunicação do LAIS/UFRN (ASCOM/LAIS)
“Apesar de ter sido um momento muito complexo, foi uma grande oportunidade para a implementação da tecnologia digital na saúde, salvando vidas. Foi uma tarefa complexa mas o Rio Grande do Norte conseguiu e continua avançando”. A declaração é de Chander Pinheiro, Coordenador da Unidade de Tecnologia, Sistemas de Informações e Comunicação, da SESAP, e diz respeito ao período da pandemia de covid-19, momento em que o sistema estadual não entrou em colapso.
A declaração ocorreu durante o Seminário de Saúde Digital, promovido pelo Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS/UFRN) na manhã do último sábado. Além da participação de Chander Pinheiro, o seminário contou com a participação do pesquisador gaúcho, Leandro Rodrigues, com a mediação do debate sendo feita pelo professor Ricardo Valentim, diretor executivo do LAIS.
Com o tema “Saúde Digital no Brasil e no RN: onde estamos e para onde vamos”, Chander Pinheiro contextualizou o caminho traçado pela Secretaria de Saúde do Estado na transformação tecnológica impulsionada pela covid-19. Como exemplo, o coordenador lembrou do trabalho de regulação de leitos, que era feito por 11 pessoas, utilizando planilhas preenchidas manualmente e que conseguia atender a agilidade e segurança necessária que o trabalho requer.
Por meio de uma parceria com o LAIS foi construído um ecossistema tecnológico para o atendimento dessa necessidade, incluindo plataformas como o Regula RN, responsável pela regulação dos leitos clínicos e críticos em toda a rede do SUS do RN, e o RN Mais Vacina, direcionada para o gerenciamento de recebimentos, armazenamento e distribuição dos imunizantes, até o momento de aplicação no paciente. Todas essas tecnologias criadas durante a pandemia foram incorporadas ao sistema de saúde do estado.
Para Chander Pinheiro, no momento da pandemia, o principal objetivo era não deixar o sistema de saúde entrar em colapso, o que foi plenamente alcançado. “Foi um momento crítico mas conseguimos crescer e agora estamos trabalhando para manter essa evolução constante e a parceria com o LAIS tem sido fundamental para esse avanço”, enfatiza o coordenador da SESAP.
Paciente como protagonista do processo
O outro tema abordado no Seminário de Saúde Digital foi “Avaliação de Tecnologias em Saúde: impactos e implicações para o SUS, com a abordagem de Leandro Rodrigues que é enfermeiro da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBESRH) e doutorando na área de tecnologia em saúde. Em sua fala, o pesquisador enfatizou a necessidade da implementação da saúde digital em todo o sistema público sem, no entanto, esquecer que o paciente é o protagonista de todo o processo. “Todas as aquisições precisam ser feitas visando a qualidade do atendimento e o que realmente o paciente, sua família e a comunidade atendida precisa e deseja”, reforça.
Para exemplificar esse processo, Leandro Rodrigues mostrou pontos que precisam ser levados em conta no processo de aquisição das tecnologias, de acordo com a Política Nacional de Gestão de Tecnologia em Saúde. Ao todo são quatro passos, iniciando com a avaliação da efetividade clínica, levando em conta como a tecnologia funciona na prática clínica e é segura. Outro ponto é a avaliação econômica da relação entre custo e efeito clínico relacionados à tecnologia e suas alternativas. Mais dois pontos são fundamentais neste processo, incluindo o paciente e suas necessidades, como já foi ressaltado, e a organização e visibilidade, levando em conta os requisitos para o uso da tecnologia, assegurando qualidade, segurança e questões legais e orçamentárias.
“A tecnologia é um grande aliado, muito importante para prestar o cuidado em saúde, mas sempre lembrando que as pessoas, os usuários do sistema de saúde, são os protagonistas do processo”, lembra Rodrigues.
Durante os debates, mediados pelo professor Ricardo Valentim, diversos pontos foram levantados quando o processo ético, político e a participação da sociedade em todo o processo de saúde digital. O diretor do LAIS ressaltou que o sistema de saúde ainda enfrenta problemas estruturais, principalmente políticos, que prejudicam avaliar se os sistemas utilizados são suficientes para gerir toda a saúde. Valentim lembra que instalar é diferente de implementar. “Implementar é instalar, organizar e qualificar os profissionais para que a tecnologia seja benéfica para aquela unidade de saúde, para aquele hospital. Cada hospital tem a sua singularidade e precisa de tecnologias adequadas a cada realidade”. Para o pesquisador, a tecnologia precisa ter plasticidade, respeitando as singularidades de cada unidade, e ainda ressalta a qualidade do trabalho que vem sendo desenvolvido no Rio Grande do Norte. “O RN tem potencial indutor para o restante do Brasil no tocante à saúde digital”.
O Seminário Saúde Digital reuniu professores e estudantes da graduação e pós-graduação, mestrandos e doutorandos, além de pesquisadores nas áreas de saúde, engenharia, design, educação e comunicação.