Por Valéria Credidio – ASCOM / LAIS
Mais de 177 mil pessoas estão matriculadas na trilha de aprendizagem “Sífilis e outras Infeções Sexualmente Transmissíveis”, composta por 57 cursos online, disponíveis no Ambiente Virtual de Aprendizagem do Sistema Único de Saúde (AVASUS). Os números comprovam o engajamento dos profissionais em busca de formação humana em saúde, solidificando-se enquanto política pública para o Brasil. A trilha foi especialmente construída para o enfrentamento à epidemia da sífilis, no país, declarada em 2016, pelo Governo Federal.
Esses são alguns dos resultados obtidos por um grupo de pesquisadores do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS/UFRN) em parceria com pesquisadores da Universidade de Coimbra, em Portugal. O trabalho, intitulado “Educação massiva em saúde por meio da mediação tecnológica: análises e impactos na epidemia de sífilis no Brasil“, foi publicado na revista científica Frontiers, periódico de relevância internacional.
O artigo aponta para a relevância da educação permanente em saúde como ferramenta de resposta a crises de saúde pública, e da capacidade dos pesquisadores brasileiros têm de fazer análise de política pública e das ferramentas para a sua indução. “Os dados demonstram como o investimento em formação humano, no caso da saúde, pode auxiliar na condução de políticas públicas, mudar processos de trabalho e qualificar melhor os serviços de saúde, deixando o país mais resiliente frente às crises”, argumentou o diretor executivo do LAIS, Ricardo Valentim, um dos autores do trabalho.
A trilha formativa em análise é mais um produto do Projeto “Sífilis Não”. O projeto é resultado de uma parceria do LAIS, com o Ministério da Saúde, Organização Mundial de Saúde (OMS) e Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS).
Com o título em português “Educação em Saúde Massiva por Mediação Tecnológica: Análises e Impactos na Epidemia de Sífilis no Brasil”, o artigo analisa os impactos da trilha de aprendizagem “Sífilis e outras ISTs” em resposta à epidemia de Sífilis no Brasil, destacando o processo educativo da trilha e suas implicações sociais sob a perspectiva da Agenda 2030 das Nações Unidas e das Metas de Desenvolvimento Sustentável.
Para o estudo, foram utilizadas três bases de dados distintas para organizar os dados educacionais, que foram: a trilha de aprendizagem “Sífilis e outras ISTs” do AVASUS, o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde do Ministério da Saúde e a Classificação Brasileira de Ocupações, do Ministério do Trabalho.
De acordo com o levantamento, 85% dos profissionais que participam da formação atuam na atenção primária e secundária à saúde. “Esses profissionais são o público-alvo da trilha de aprendizagem e, portanto, fazem parte do pessoal diretamente engajado nos serviços de saúde que combatem a epidemia de sífilis no Brasil”, ressaltou Alexandre Caitano, um dos autores do artigo.
As análises baseadas nos dados sugerem fortemente que o uso de MOOCs (sigla em inglês para Curso Online Aberto e Massivo) para educação em saúde, como foi feito no Projeto “Sífilis Não!”, pode ser empregado pelas autoridades sanitárias como ferramenta para influenciar a formulação de políticas públicas de saúde. Para Caitano, as descobertas destacam que, além de educar de forma abrangente os profissionais de saúde, a educação em saúde on-line aberta em massa atua como uma ferramenta para promover a resiliência na resposta dos sistemas de saúde em momentos de crises de saúde pública. “ Dessa forma, é urgente que gestores e demais autoridades de saúde pública considerem essa ferramenta como um importante elemento da estratégia de política pública de saúde”, finalizou.
Na opinião do professor Carlos Alberto Oliveira, da UERJ, pesquisador do LAIS e um dos autores do artigo, os resultados obtidos são bastante relevantes, tendo em vista a forma como foram construídos, por meio de análises combinando mediação tecnológica com ofertas formativas abertas, online e flexíveis além de observar os impactos no processo de trabalho e cuidados na área da saúde, tendo o Projeto “Sífilis Não” como o caso a ser estudado. “Em todo o mundo nesta década, organizações internacionais e governos têm investido milhões de dólares na aprendizagem ao longo da vida em saúde com mediação tecnológica. Mais uma razão para aprofundarmos estudos sobre os impactos nos serviços”. Com longa experiência em educação ao longo da vida e formação através da mediação tecnológica, o pesquisador não hesitou em declarar: “este foi um dos trabalhos acadêmicos mais intensos dos quais eu participei”, finalizou.
Como citar: Caitano AR, Gusmão CMG, Dias-Trindade S, Barbalho IMP, Morais PSG, Caldeira-Silva GJP, Romão MH, Valentim JLRS, Dias AP, Alcoforado JLM, Oliveira CAP, Coutinho KD, Rêgo MCFD and Valentim RAM (2022) Massive health education through technological mediation: Analyses and impacts on the syphilis epidemic in Brazil. Front. Public Health 10:944213.
Link para o artigo: https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fpubh.2022.944213/full